A Frente Ampla, coalizão governista do Uruguai, conquistou maioria tanto no Senado quanto na Câmara nas eleições gerais de domingo passado. Os resultados parciais apontam que foram eleitos 16 senadores e 50 deputados, contra nove e 30 do Partido Nacional, cinco e 17 do Partido Colorado, respectivamente. O país tem ao todo 30 senadores e 99 deputados.
É dentro desta configuração legislativa que os candidatos presidenciais José “Pepe” Mujica, pela Frente Ampla, e Luis Alberto Lacalle, pelo Partido Nacional, vão disputar o segundo turno, no dia 29 de novembro. Mujica obteve 48,16% dos votos e Lacalle, 28,94%.
Para Gerardo Caetano, diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade da República, em Montevidéu, o ponto principal da vitória da Frente Ampla no primeiro turno está no interior do país. ”Os votos de Pepe Mujica subiram em relação a cinco anos atrás no interior, e isso se deve ao perfil do candidato, ao perfil que ele mostrou nas campanhas, com uma conotação rural muito marcada. Apesar de ter um discurso moderado, ele não ocultou seu estilo nas campanhas, o que o deixou próximo do estilo de vida das pessoas do interior”.
Mujica, ex-líder guerrilheiro tupamaro, foi ministro da Agricultura do governo Tabaré Vasquez.
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”Não estamos falando só de camponeses, porque o Uruguai é um país majoritariamente urbanizado (91% da população vive em cidades). Mas sim de um interior que se identificou com o discurso de José Mujica, em bairros urbanizados. Com o estilo, o perfil, o passado dele, com a tentativa de se aproximar das pessoas. Apesar de ter sido muito alinhado à esquerda, ele procurou se distanciar de Chávez”, afirmou ao Opera Mundi, por telefone.
Além disso, o fato de ser candidato por um partido que integra a coalizão que já estava à frente da administração do país ajuda a diminuir uma pequena rejeição que existe por conta de Mujica ter sido guerrilheiro, avalia Caetano.
Apesar de Mujica ser conhecido e fazer a campanha como ex-líder tupamaro, o analista explica que a mudança na aparência foi um dos pontos que colaboraram para ele “ganhar espaço no interior”. Para reverter o aspecto desalinhado, que já foi uma de suas características mais marcantes, Mujica passou a usar camisa e gel no cabelo.
Iván Franco/EFE – 25/10/2009
Mujica no dia da eleição
Ganhando espaço dos “blancos”
Num país em que a votação é feita por lista fechada e vale tanto para o Legislativo quanto para o Executivo, a Frente Ampla ganhou em 11 dos 19 departamentos (estados), sendo dez do interior. Impôs-se em quatro que estavam sob o poder dos “blancos”, ou seja, do Partido Nacional: Colonia (38,06%), Soriano (42,99%), Río Negro (40,07%) e San José (42,02%).
No entanto, a Frente Ampla recebeu menos votos (cerca de 30 mil) do que nas eleições passadas em 13 estados do interior: Canelones, Treinta y Tres, Cerro Largo, Rivera, Artigas, Salto, Paysandú, Río Negro, Soriano, San José, Flores, Durazno e Tacuarembó. Mas o Partido Nacional também perdeu votos em todos os estados, em valores absolutos.
Para Caetano, apesar de faltarem ainda 32 mil votos para serem contabilizados, a configuração legislativa apontada na apuração das urnas é semelhante à atual. ”É um resultado muito similar, com mudanças mínimas. A Frente Ampla já tinha maioria nas duas Casas”. A diferença é que o Partido Nacional perdeu quatro cadeiras no Senado e o Colorado ganhou três.
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