Pela terceira vez em quatro meses, o ex-presidente peruano Alberto Fujimori enfrenta os tribunais.
Em abril, um painel formado por três juízes o considerou culpado por ter ordenado que o esquadrão militar conhecido como Grupo Colina matasse 25 pessoas durante seu mandato. O ex-presidente negou as acusações e prometeu recorrer da sentença de 25 anos de prisão.
Agora, acusado de corrupção, Fujimori admitiu que fez um pagamento milionário de 15 milhões de dólares a seu ex-assessor Vladimiro Montesinos em 2000. Alegou que o objetivo era evitar um golpe de Estado, após entender que já não precisava dos serviços do funcionário. Ele argumenta que 41 dias depois, devolveu o dinheiro aos cofres públicos. A sentença será lida hoje (20).
José Luis Sardón, professor de Economia e Direito da Universidade Peruana de Ciências Aplicadas e um dos analistas políticos que criticaram a sentença de abril por ter sido “claramente excessiva”, disse ao Opera Mundi que “agora o processo é muito diferente”.
“Dessa vez a própria parte acusada teve que aceitar os fatos. Houve má utilização dos fundos, não apropriação indevida. Mas agora há mais elementos (provas)”, comentou Sardón.
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Na terceira audiência do caso, sexta-feira (17), o ex-presidente explicou que o dinheiro foi necessário para evitar um golpe de Estado em setembro de 2000. Fujimori tinha sido reeleito pela terceira vez, em meio a uma forte comoção nas ruas, pois a Constituição de 1993 impedia que fosse candidato novamente.
Em setembro foi divulgado o primeiro ‘vladivideo’, como foi chamada a gravação de uma reunião ilegal entre congressistas da oposição recebendo pagamento em dinheiro de Montesinos para respaldar o fujimorismo no Legislativo. O vídeo desencadeou a crise política e a necessidade de romper com o assessor.
Em 2007, Fujimori declarou à Corte Suprema de Chile – durante o processo de extradição – que emitiu um decreto de urgência para que os 15 milhões fossem destinados à Operação Soberania, contra ações do narcotráfico e das FARC na fronteira. “Mas a operação nunca existiu”, explicou o promotor do caso, Avelino Guillén.
Fujimori estava detido desde 2005 no Chile. O ex-presidente, que se exilou no Japão em 2000 após os escândalos de corrupção, viajou a Santiago como uma suposta parada no caminho de volta ao Peru, onde pretendia concorrer uma vez mais às eleições.
Segundo Fujimori, sua opção pela ‘conclusão antecipada’ do juízo se deveu ao “risco de um maior enfraquecimento da saúde e por desconfiança na justiça que aplicou a pena máxima” no caso anterior.
No entanto, para o sociólogo Fernando Tuesta, chefe do Instituto de Opinião Pública (IOP) da Pontifícia Universidade Católica do Peru, o ex-presidente não tinha como negar a acusação.
“Ele está certo de que vai ser acusado. Ninguém acredita na tese do golpe de Estado, é por isso que Fujimori aproveitou a sessão de hoje (sexta-feira) para fazer um discurso político e desacreditar o tribunal”, salientou.
Sucessora
O promotor Avelino Guillén explicou que a Promotoria tinha 29 testemunhas para o caso e que assim, com a conclusão antecipada, Fujimori quer evitar estar associado à corrupção no tribunal e dessa forma, preservar a candidatura eleitoral da filha, Keiko Fujimori, que tem a liderança com 22% das preferências.
A promotoria baseou a acusação no fato de que Fujimori e Montesinos tinham uma relação de confiança nessa data e que não houve uma ameaça de golpe. “Fujimori assinou uma resolução secreta de felicitação e agradecimento a Montesinos pelos serviços prestados, é uma prova de que não houve chantagem”, lembrou Guillén em coletiva.
Para o promotor, houve apropriação indevida porque o dinheiro que Fujimori devolveu 41 dias depois não foi o mesmo e não teve origem conhecida. Para César Nakasaki, advogado de Fujimori, não houve comissão do delito porque o dinheiro retornou aos cofres públicos.
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