O presidente de transição do Gabão, general Brice Oligui Nguema, reuniu-se nesta terça-feira (05/09) com Albert Ondo Ossa, candidato da oposição das últimas eleições presidenciais do país, realizadas em 26 de agosto e que reelegeram pela terceira vez o agora deposto mandatário Ali Bongo Ondimba.
“Hoje fui à casa do professor Albert Ondo Ossa, com quem pude conversar num ambiente amigável, num espírito de franqueza e construtividade”, declarou o novo ´presidente por meio das redes sociais.
O representante da oposição também confirmou o encontro, declarando ao povo gabonês para que “acreditem num futuro melhor e resplandecente”.
Mes chers compatriotes,
Aujourd’hui à mon domicile, j’ai pu en toute intimité et collégialité m’entretenir avec le Président de la Transition et la restauration des institutions ( CTRI).
Osons croire à un avenir meilleur et resplendissant pour notre cher pays le Gabon.… pic.twitter.com/8j6KvHlfhO
— Ondo Ossa Albert (@OndoOssaA_) September 5, 2023
A reunião aconteceu após a posse de Nguema como presidente de transição na última segunda-feira (04/09), ocasião em que declarou que trabalharia com “pessoas experientes” e de “competência comprovada”, de acordo com o portal Gabon 24.
Antes do apoio, críticas ao levante militar
Apesar da recente declaração apoio, o professor de economia da aliança gabonesa Alternance 2023 nas eleições de agosto concedeu uma entrevista ao jornal Al Jazeera publicada na última sexta-feira (01/09), em que criticava o levante militar no país e alegava sua vitória nas eleições.
Na entrevista, Ossa caracterizava o movimento de transição como “uma decepção”. Além disso, falou em “dois golpes em um”, referindo-se à sua suposta vitória no pleito de 26 de agosto e posteriormente ao levante que derrubou Ondimba em 30 de agosto.
“Ele não deu mais detalhes sobre a sua reivindicação, mas disse que os gaboneses votaram massivamente nele e que ele usaria meios constitucionais para contestar o resultado das eleições”, afirma o portal catari. De acordo com os resultados oficias, Ossa obteve cerca de 30% dos votos, e Ondimba, 64%.
Ossa declarou à Al Jazeera que havia imaginado a possibilidade do levante militar por “acompanhar a atividade política do país, ver como funcionam as instituições, a guarda presidencial a ascensão de Nguema”.
O candidato da oposição também havia classificado o levante como um “assunto de família” e não um “golpe de Estado” uma vez que Nguema é primo de Bongo Ondimba, chegando a referir-se a ele como “pequeno Bongo”.
Twitter/Albert Ondo Ossa
Em entrevista a Al Jazeera na última semana, Ossa caracterizava o movimento de transição como "uma decepção"
“Ele é primo do Bongo, então como posso pensar que ele é diferente? Este jovem cresceu no Palácio [presidencial]. Eu o conhecia como parente de Bongo, como todos os gaboneses sabem”, disse Ossa à Al Jazeera.
“Foi uma revolução palaciana, não um golpe de Estado. Este é um assunto de família, onde um irmão substitui outro”, finalizou ao declara-se empenhado para “garantir o regresso da ordem republicana”.
O que está acontecendo no Gabão?
Um grupo de 12 militares do Gabão informou em 30 de agosto a tomada do poder, dissolvendo as instituições do país (governo, Senado, Assembleia Nacional, Tribunal Constitucional e Conselho Eleitoral) e anulando o resultado das eleições de 26 de agosto que reelegeram pela terceira vez o então presidente Bongo Ondimba.
O anúncio dos oficiais informava que Ondimba havia sido deposto de seu cargo, mas que continuaria com todos os direitos civis. Após a deposição, o ex-presidente gravou um vídeo clamando por ajuda internacional para solucionar a situação política no país.
Após a tomada de poder, os militares nomearam o General Brice Oligui Nguema como presidente de transição, que tomou posse na última segunda-feira (04/09).
Bongo estava no poder havia 14 anos, mas sua família governava o Gabão de forma ininterrupta desde 1967, sendo que obteve independência da França em 1960. A derrubada do presidente foi comemorada com festa nas ruas da capital Libreville.
O levante militar no Gabão fez com que o Conselho de Segurança e Paz da União Africana (UA) suspendesse o país “de todas as suas atividades, órgãos e instituições até a restauração da ordem constitucional”.
Ainda não há declarações sobre possibilidade de intervenção militar estrangeira no Gabão. A UA solicitou “uma missão de alto nível”, em colaboração com a Comunidade Econômica dos Estados da África Central (CEEAC) para que a crise política seja solucionada. Nesse contexto, as fronteiras terrestres, marítimas e aéreas também já foram reabertas no país.
Já a União Europeia manifestou sua preocupação com a situação em Libreville, classificando o levante militar no Gabão como um “golpe de Estado, que aumentará a instabilidade em toda a região”, reconhecendo a situação como “um grande problema pra Europa” que denuncia a necessidade de “melhorar suas relações” com os países da África.
Outros levantes militares na África
O levante no Gabão não foi um movimento isolado. Mais recentemente, no final de julho, o Níger, na África Ocidental, também viveu uma situação semelhante.
Mali, Guiné, Sudão e Burkina Faso também encontram-se sob governos de transição militares, com eleições previstas para 2024 em alguns desses países.
Todos eles apresentam passados de colonização por países europeus e obtiveram suas independências após anos de exploração do imperialismo.