Em sua primeira coletiva desde que fugiu do Japão para o Líbano, Carlos Ghosn, 65 anos, ex-presidente da aliança de montadoras Renault Nissan Mitsubishi, disse que resolveu se apresentar ante à imprensa nesta quarta-feira (08/01) para “lavar sua honra”. Ghosn afirmou que foi vítima de um conluio entre a Nissan e o procurador japonês. “Este caso coincide com o início da queda de desempenho da Nissan, em junho de 2017”, declarou.
O ex-CEO citou nominalmente executivos da montadora japonesa e membros da Procuradoria que participaram do que chamou de “conspiração” e “farsa” contra ele. Ghosn entregou aos jornalistas presentes cópias de documentos com os supostos envolvidos na “conspiração”. Ele afirmou ainda que integrantes do governo japonês também contribuíram para o que ele alega ter sido uma prisão injusta. “Mas, por respeito ao governo do Líbano, não citarei nomes, uma vez que eles poderiam complicar ainda mais o trabalho que as autoridades libanesas enfrentam com o caso”, acrescentou.
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“Eu não fugi da justiça. Eu escapei da injustiça e da perseguição, perseguição política. Tendo suportado mais de 400 dias de tratamento desumano e um tratamento desenhado para acabar comigo, e para providenciar um mínimo de justiça, eu não tive escolha a não ser me proteger e a minha família. Foi uma decisão difícil e esses riscos só foram tomados diante da impossibilidade de um processo justo”, insistiu Ghosn. “Tornei-me refém de um país que eu servi durante 17 anos”, afirmou.
Adam Tinworth / Flickr
Ex-presidente da aliança de montadoras Renault Nissan Mitsubishi concede primeira coletiva de imprensa
Ghosn é alvo de quatro acusações no Japão: duas por quebra de confiança com agravante e duas por renda não declarada pela Nissan às autoridades da Bolsa de Valores de Tóquio. A montadora também é processada por este aspecto, em particular os valores que Ghosn deveria receber após sua aposentadoria, estimados pela justiça japonesa em 74 milhões de euros, entre 2010 e 2018.
As autoridades japonesas denunciaram uma fuga “injustificável”, enquanto a Nissan referiu-se à fuga como “extremamente lamentável”.