O jornalista Gleen Greenwald, do site The Intercept, publicou nesta quinta-feira (13/06), no Twitter, uma nota em resposta a um texto da TV Globo, divulgado na quarta (12/06), que colocava em dúvida o caráter dele em meio às apurações do vazamento de conversas entre o atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol.
“Até hoje, a Globo – em contraste com muitos outros grandes jornais e revistas no Brasil e internacionalmente – continua desinteressada em obter acesso ao arquivo, e as razões me parecem claras: eles preferem abafar, ao invés de revelar, os desvios da Lava-Jato e Moro”, diz Greenwald.
O texto da Globo, publicado pela Agência Pública, havia sido uma reação a uma entrevista concedida por Greenwald ao mesmo órgão, na segunda (11/06), em que o jornalista afirmou que a emissora e a força-tarefa da Lava Jato eram “parceiras”.
Leia, na íntegra, a nota de Glenn Greenwald
A Globo publicou ontem [quarta, 12/06] uma extensa nota com acusações e falsidades sobre mim. O objetivo é claro e é o mesmo que aparece em toda a cobertura da Globo sobre esse assunto: distrair a atenção da substância das reportagens que expõe sérios desvios na conduta de Moro, Deltan e a Força-Tarefa da Lava Jato. Não ajudarei nesse esforço.
É verdade que colaborei com o Fantástico em 2013, enquanto trabalhávamos no Caso Snowden. Os jornalistas com quem trabalhei, Sonia Bridi e sua equipe, são excelentes, e considero que desenvolvemos um trabalho de alta qualidade.
Mantenho, entretanto, minhas críticas às decisões corporativas da empresa e ao que considero que sejam os efeitos negativos da influência da Globo no país (obviamente incluindo o apoio dela à ditadura militar, para o qual pediram desculpas apenas em 2013, quando forçados a fazê-lo, mas que ainda é responsável pelos bilhões de reais em riqueza desfrutados pela família Marinho, mas muito mais danos além disso). Incluo agora entre minhas críticas à cobertura que têm feito do #VazaJato, e o que é um esforço para diminuir sua repercussão e proteger o Ministro Moro e a força-tarefa da Lava Jato.
A diferença em como cada meio de comunicação no Brasil e internacionalmente está reportando essas revelações, e como a Globo está fazendo isso, não poderia ser mais evidente ou óbvia. Ele fala por si.
É uma realidade lamentável que no Brasil, ao contrário de qualquer outro país no mundo democrático, um órgão de mídia seja tão dominante na televisão, obrigando qualquer pessoa que deseje atingir um público grande a trabalhar em conjunto com a Rede Globo. É por isso que colaborei com a Globo no caso Snowden e é por isso que propus que colaborássemos novamente.
Até hoje, a Globo – em contraste com muitos outros grandes jornais e revistas no Brasil e internacionalmente – continua desinteressada em obter acesso ao arquivo, e as razões me parecem claras: eles preferem abafar, ao invés de revelar, os desvios da Lava-Jato e Moro.
Todos os órgãos de imprensa têm excelentes repórteres e jornalistas. Porém, ainda que esses profissionais desenvolvam um grande trabalho, é muitas vezes necessário que eles sejam amparados por uma instituição compromissada com jornalismo investigativo e destemido. Não creio ser este o caso da Globo.
Foi com essa missão que se fundou o Intercept, e é esse o nosso compromisso. Entrar em disputas com a Globo agora seria dar gás aqueles que pretendem desviar a atenção do que vai ficar o assunto principal: a conduta dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato e do ex-juiz e agora ministro Moro.
Fernando Frazão/Agência Brasil
Glenn Greenwald: Globo prefere abafar conversas de Moro e Dallagnol
Leia, na íntegra, a nota da TV Globo
Glenn Greenwald procurou a Globo por e-mail no último dia 29 de maio para propor uma nova parceria de trabalho. Em 2013, a emissora já havia dividido com ele o trabalho sobre os documentos secretos da NSA referentes ao Brasil. Uma parceria que mereceu elogios dele pela forma como foi conduzido o trabalho.
Greenwald ficou ainda mais agradecido por um gesto da Globo. Nas reportagens que a emissora divulgou, em algumas frações de segundo era possível ver nomes de funcionários da agência americana, que não trabalhavam em campo, mas em escritório. Mesmo assim, tal exposição poderia levá-lo a responder a um processo em seu país natal, os Estados Unidos. A Globo, então, assumiu sozinha a culpa, declarando que, durante a realização da reportagem, Greenwald se preocupava sobremaneira com a segurança de seus compatriotas. Tal atitude o livrou de qualquer risco.
Ao e-mail do dia 29 de maio seguiram-se alguns telefonemas na tentativa de conciliar agendas (ele estava viajando) para um encontro, finalmente marcado. Ele ocorreu na redação do Fantástico no dia 5 de junho. Na conversa, insistindo em não revelar o tema, ele disse que tinha uma grande “bomba a explodir” e repetiu que queria voltar a dividir o trabalho com a Globo, pelo seu profissionalismo. Mas, antes, gostaria de saber se a emissora tinha algo contra ele, sem especificar claramente os motivos da pergunta, apenas dizendo que falara mal da Globo em algumas ocasiões. Provavelmente se referia a um artigo que seu marido, o deputado David Miranda, do PSOL, tinha publicado no Guardian com mentiras em relação à cobertura do impeachment da presidente Dilma Rousseff. O artigo foi rebatido por João Roberto Marinho, presidente do Conselho Editorial do Grupo Globo, fato que deu origem a comentários desairosos do próprio Greenwald.
Na conversa de 5 de junho, ele afirmou que “tudo estava no passado”. Prontamente, ouviu que jamais houve restrição (de fato, David Miranda já foi inclusive convidado para entrevista em programa da GloboNews). Greenwald ouviu também, com insistência, por três vezes, que a Globo só poderia aceitar a parceria se soubesse antes o conteúdo da tal “bomba” e sua origem, procedimento óbvio. Greenwald se despediu depois de ouvir essa ponderação.
A Globo ficou aguardando até que, na sexta-feira à tarde, Greenwald mandou um e-mail afirmando que não recebeu nenhuma resposta da Globo e que devia supor que a emissora não estava interessada em reportar este material. Como Greenwald, no e-mail, continuava a sonegar o teor e origem da “bomba”, não houve mais contatos. Não haveria como assumir qualquer compromisso de divulgação sem conhecimento do que se tratava.
No domingo, seu site, o Intercept, publicou as mensagens atribuídas ao ministro Sergio Moro e procuradores da Lava-Jato, assunto que mereceu na mesma noite destaque em reportagem de mais de cinco minutos no Fantástico (e depois em todos os telejornais da Globo).
Na segunda, uma funcionária do Intercept sugeriu que o programa Conversa com Bial entrevistasse um dos editores do site para um debate sobre jornalismo investigativo. Como o próprio site anunciou que as publicações de domingo eram apenas o começo, recebeu como resposta que era conveniente esperar o conjunto da obra, ou algo mais abrangente, antes de se pensar numa entrevista.
Por tudo isso, causam indignação e revolta os ataques que ele desfere contra a Globo na entrevista publicada na Agência Pública. Se a avaliação dele em relação ao jornalismo da Globo e a cobertura da Lava-Jato nos últimos cinco anos é esta exposta na entrevista, por que insistiu tanto para repetir “uma parceria vitoriosa” e ser tema de um dos programas de maior prestígio da emissora? A Globo cobriu a Lava-Jato com correção e objetividade, relatando seus desdobramentos em outras instâncias, abrindo sempre espaço para a defesa dos acusados. O comportamento de Greenwald nos episódios aqui narrados permite ao público julgar o caráter dele.”