Quando parecia que tudo estava pronto para que o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, saísse do país em direção ao México, como parte de um processo de negociação, o governo golpista de Roberto Micheletti exigiu que antes o presidente renunciasse ao cargo para o qual foi eleito. Um avião vindo do país norte-americano chegou a ser desviado para El Salvador quando o plano foi frustrado.
Zelaya detalhou a operação ontem (9) à rede de televisão Televisa, após o governo mexicano ter informado por meio de nota oficial que tenta “atender a uma solicitação do presidente de Honduras, José Manuel Zelaya Rosales, para ser recebido no México”.
O líder deposto explicou que “o regime de facto tirou um documento da manga como condição para a saída” dele de Honduras, e teria exigido que ele “renunciasse ao cargo de presidente”. Essa exigência, acrescentou, é “inadequada para meu país, meu povo e meu mandato que termina em 27 de janeiro”.
Quase ao mesmo tempo, em Tegucigalpa, o chanceler hondurenho, Carlos López, informou que foi rejeitada uma solicitação feita pelo México de salvo-conduto para que Zelaya viajasse a esse país, mas disse que “segue aberta” a possibilidade do documento ser concedido.
O regime hondurenho “negou (o salvo-conduto) pela forma como foi feita a solicitação e pela falta de qualificação jurídica do tipo de asilo que lhe pretendiam conceder”, explicou López à imprensa local. “Isso não representa um ponto final por parte do governo, estamos dispostos a examinar (a solicitação) sempre e quando, claro, forem cumpridos os devidos requisitos”, concluiu.
O governo mexicano segue numa segunda tentativa de negociação com Zelaya e outras autoridades hondurenhas. “As gestões acontecem com o apoio de países amigos e de alguns atores políticos hondurenhos, com o propósito de obter as garantias de segurança necessárias, mediante um salvo-conduto para que Zelaya possa deixar a proteção da embaixada do Brasil em Tegucigalpa”, afirmou um funcionário do Ministério das Relações Exteriores.
Asilo
Zelaya negou à BBC Mundo que tenha pedido asilo político e assegurou que a saída de Honduras formaria parte de um “negociação interna”. Segundo ele, foram promovidas conversas com o presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, e do México, Felipe Calderón, além de outros líder da América Central e do Sul. Fernández sugeriu a saída de Zelaya do país, de acordo com o presidente.
“Interpretaram isso como um problema de asilo ou de buscar outro status político e isso é falso. O nego totalmente: não pedi asilo, não quero asilo, não aceito asilo. Sempre e quando as condições sejam as de respeitar a dignidade do presidente, eu estarei disposto a dialogar com as pessoas interessadas nesses processo de soluções democráticas”, disse à BBC Mundo.
De acordo com ele, representantes mexicanos se encontraram com figuras do regime numa tentativa de esclarecer o caráter da viagem. “Disseram que eu seria um ‘hóspede distinto’”, contou. Zelaya também afirmou que não recebeu qualquer garantia para sair da embaixada brasileira, somente “palavras”.
“Eu tenho a hospitalidade do Brasil, a quem agradeço sinceramente, tanto ao presidente Lula, ao chanceler (Celso) Amorim, ao Marco Aurelio (García) e aos representantes aqui na sede diplomática em Tegucigalpa”, afirmou, sem indicar quais seriam os próximos passos após a tentativa de solução para sua permanência na embaixada, onde está desde o dia 21 de setembro.
“Intransigência”
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, criticou a atitude do governo golpista. “É uma intransigência.
Não é assim que se faz democracia e política, mas querer ensinar
diplomacia e política a golpistas é muito difícil”, disse.
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Atualizada às 10h34 de sexta-feira (11)
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