Às vésperas da primeira reunião entre o Talibã e o governo norte-americano, prevista para amanhã (20/06), em Doha, no Catar, o presidente afegão, Hamid Karzai, suspendeu as negociações de paz enquanto o processo “não for liderado pelos afegãos”. Mais cedo, ele havia anunciado também a interrupção de um acordo de segurança bilateral com os EUA que entraria em vigor após a retirada completa das tropas da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) do país, em 2014.
De acordo com o porta-voz de Karzai, Aimal Faizi, “há uma contradição entre o que o governo [dos EUA] diz e aquilo que faz no que diz respeito às negociações de paz”. Ao anunciar que enviariam representantes para as conversas com o movimento rebelde no novo gabinete em Doha, os norte-americanos teriam dado um aval à postura do Talibã como representante governista fora do país, apesar de este não ter se comprometido a dialogar com o governo, a respeitar a Constituição ou a renunciar à violência.
“Os talibãs não podem se apresentar assim. Eles são apenas um grupo de rebeldes sem qualquer estatuto legal”, disse ao The New York Times, Aminuddin Mozafari, membro do Alto Conselho de Paz criado por Karzai para liderar as negociações.
Os rebeldes afegãos teriam enfurecido o governo de Karzai no anúncio da abertura de um gabinete no Catar feito ontem: o comunicado foi televisionado e colocaram em primeiro plano a bandeira branca do movimento, juntamente com uma faixa em que se lia “Gabinete Político do Emirado Islâmico do Afeganistão”, nome do país durante o regime talibã.
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O comunicado oficial da presidência afegã afirma que “a forma como o gabinete talibã foi aberto e as mensagens enviadas contrastam em absoluto com todas as garantias dadas pelos EUA”. Além disso, houve críticas à participação de “mãos estrangeiras por trás da abertura do gabinete no Catar”, que teriam facilitado a ação do Talibã.
O presidente Barack Obama, por sua vez, desvalorizou as polêmicas, dizendo que já era esperado que houvesse “muitos obstáculos no caminho”, mas que “mais tarde ou mais cedo os afegãos vão ter de falar uns com os outros para pôr fim ao ciclo de violência”. Enquanto isso, foi relatado que os negociadores norte-americanos já chegaram ao Catar, mas não se sabe se prosseguirão com os planos iniciais para as conversas.
Os anúncios do governo afegão vieram um dia depois de os EUA terem passado definitivamente o controle da segurança nacional para o Afeganistão, declaração seguida pelo lançamento das negociações de paz. Os rebeldes, entretanto, asseguraram que o diálogo não os impedirá de continuar atacando forças estrangeiras, como foi comprovado com a morte de quatro soldados norte-americanos ontem na base aérea de Bagram, em ataque reivindicado pelo Talibã.