O governo argentino está estudando a possibilidade de que a empresa de petróleo YPF (Yacimientos Petrolíferos Fiscales) volte às mãos do Estado. É o que sustenta, em reportagem publicada neste domingo (29/01), o jornal argentino Página 12, publicação alinhada à gestão da presidente Cristina Kirchner.
Raúl Ortiz Machin/Wikicommons
Empresa foi compravda pela espanhola Repsol durante o programa de privatizações do governo Menem
A medida estaria sendo discutida em reuniões entre o ministro de Planejamento, Julio De Vido, e governadores das províncias argentinas produtoras de petróleo. De acordo com a reportagem, legisladores, especialistas e “funcionários de primeira linha” do governo “participam do debate que já incorpora, como alternativa explícita, a recuperação de una petroleira estatal e, mais concretamente, a renacionalização da YPF”.
A YPF foi vendida em 1999 ao grupo espanhol Repsol, durante a política privatizadora levada a cabo pelo então presidente Carlos Menem. A nacionalização, motivada pelas “condutas abusivas e estrutura monopólica do mercado”, além da queda de investimentos na melhora da produção da empresa nos últimos dois anos, relatada em informes aos quais o governo teria acedido, incluiria desde a exploração de petróleo até sua comercialização.
Manipulação de preços
Em meados de janeiro, a Casa Rosada acusou as empresas YPF, Shell, Esso, Petrobras e Oil de cobrar 8,4% a mais no preço do óleo diesel a granel na venda a empresas de transporte de cargas e de passageiros. A denúncia, apresentada à Comissão Argentina de Defesa da Concorrência, aponta a posição dominante da YPF no mercado argentino, cujo controle chegaria a cerca de 60% e uma “conduta abusiva” por parte da empresa, que fixaria os preços mais díspares.
O vice-presidente e ex-ministro de Economia de Cristina Kirchner, Amado Boudou, transmitiu uma mensagem direta à Repsol, afirmando o governo não permitiria “a discriminação de preços”. Em comunicado, a YPF negou a acusação do governo e se mostrou à disposição “para oferecer explicações que sejam requeridas por qualquer autoridade”.
Na última quarta-feira (25/01), em sua primeira aparição pública após a cirurgia de remoção de tireóide à qual foi submetida devido a um diagnóstico falso-positivo de um tumor maligno, a presidente argentina Cristina Kirchner utilizou boa parte de seu discurso para criticar as petroleiras, afirmando que o “subsolo é dos argentinos e está concessionado”.
De acordo com a reportagem, uma das preocupações do governo é a queda de mais 10 milhões de metros cúbicos na produção de petróleo no país desde 2002, aumentando a dependência da importação de combustível e de hidrocarboneto para refinação. Segundo um estudo utilizado pela Ofephi (Organização Federal de Províncias Produtoras de Hidrocarboneto), de 2006 a 2011, a YPF diminuiu sua produção em mais de um milhão de metros cúbicos.
Para dirigentes kirchneristas das regiões produtoras, os resultados se devem à falta de investimentos da empresa e à falta de cumprimento de obrigações previstas nos acordos de produção entre as petroleiras e as administrações provinciais. Diferentes protestos de trabalhadores petroleiros e até de docentes, que bloquearam o acesso a uma planta da YPF, paralisaram intermitentemente durante meses do último ano a produção da província de Santa Cruz, no sul do país, de onde são extraídos 20% dos 35 milhões de metros cúbicos de petróleo produzidos anualmente na Argentina.
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