O vice-ministro da Defesa da Ucrânia e vários outros funcionários de alto escalão renunciaram ou foram demitidos nesta terça-feira (24/01), na esteira de uma onda de alegados casos de corrupção no país.
No mais recente escândalo, a imprensa ucraniana noticiou a compra de material logístico militar a “preços inflacionados”, sobretudo alimentos para os soldados.
Entre os funcionários que se demitiram estão, além do vice-ministro da Defesa e responsável pelo apoio logístico às Forças Armadas, Vyacheslav Shapovalov, o vice-chefe do gabinete presidencial, Kyrylo Tymoshenko. Além disso, o vice-procurador-geral, Oleksiy Symonenko, foi removido do cargo.
Também foram demitidos os chefes das administrações militares e civis nas regiões de Sumy, Dnipro, Zaporíjia e Kherson.
As baixas desta terça seguem-se à demissão e detenção do vice-ministro ucraniano da Infraestrutura, Vasyl Lozynsky, por suspeita de ter recebido suborno de 400 mil dólares para supostamente “facilitar” a compra de geradores a preços inflacionados, em um momento que a Ucrânia enfrenta cortes generalizados de energia devido a ataques russos a infraestruturas cruciais.
Presidência da Ucrânia
Ucrânia já enfrentava histórico de corrupção e agora sofre pressão do Ocidente para que ajuda financeira não seja desviada.
Polêmicas anteriores
Tymoshenko era um dos poucos membros da equipe de Zelenski que se mantinha no cargo desde a eleição do atual presidente, em 2019. Recentemente, ele havia supervisionado os projetos de reconstrução das instalações danificadas por ataques russos. Ele já esteve envolvido em outras polêmicas.
Em outubro do ano passado, foi criticado por utilizar um veículo off-road doado à Ucrânia pela General Motors para fins humanitários. Ele também estava entre as autoridades acusadas, em setembro, de estarem ligadas ao desvio de ajuda humanitária no valor de mais de 7 milhões de dólares destinados à região de Zaporíjia. Ele nega as acusações.
De acordo com o jornal ucraniano Hromdska, Tymoshenko deve ser substituído por Oleksy Kuleba, atual chefe da Administração Militar Regional de Kiev.
Já o vice-procurador-geral, Oleksiy Simonenko, esteve recentemente de férias na Espanha, segundo o jornal Ukrainska Pravda, embora as viagens ao exterior, exceto para fins profissionais, estejam proibidas a todos os ucranianos do sexo masculino em idade de combate.
Outro membro da equipe de Zelenski que renunciou recentemente foi o conselheiro externo do gabinete presidencial Oleksiy Arestovych. Em uma entrevista, ele especulou sobre a causa de um míssil russo ter atingido um prédio residencial na cidade de Dnipro, no sudeste da Ucrânia, e considerou a possibilidade de que o próprio sistema de defesa antiaérea da Ucrânia poderia ter sido o responsável pelo impacto que matou 40 pessoas. De posse das declarações de Arestovych, Moscou passou a culpar Kiev pelo ataque.
Histórico de corrupção
As renúncias e demissões desta terça ocorrem um dia após Zelenski anunciar que preparava mudanças nas altas esferas do poder e de ter proibido altos funcionários de viajarem para fora do país.
“Hoje [segunda-feira] já tomamos decisões sobre os funcionários e amanhã [terça-feira] vamos fazer alterações ao nível dos ministérios e do governo central e em organismos regionais”, disse o presidente na segunda-feira.
Antes do início da invasão do país pela Rússia, a Ucrânia já enfrentava um histórico de corrupção. Agora, a situação é ainda mais delicada, com a pressão internacional para que os bilhões de dólares doados pelos países do Ocidente sejam gastos de maneira apropriada e sem desvios.
As demissões e renúncias parecem refletir o objetivo de Zelenski de tranquilizar os aliados da Ucrânia, mostrando “tolerância zero” para subornos.
Uma declaração no site do Ministério da Defesa na manhã desta terça-feira disse que a renúncia de Shapovalov foi “um ato digno” que ajudará a manter a confiança no ministério.
A onda de escândalos vem à tona em um momento em que a Ucrânia pressiona aliados para que cobrem da Alemanha o envio de blindados Leopard, de fabricação alemã.