Uma comissão parlamentar no Iraque determinou que o ex-primeiro-ministro Nouri al Maliki (2006-2014) é o principal responsável pela queda da cidade de Mossul nas mãos do grupo extremista EI (Estado Islâmico), em junho de 2014. A divulgação dos resultados da apuração vem em meio a um amplo plano lançado pelo governo de Bagdá para lidar com a falta de apoio popular, cujas principais reclamações são contra escândalos de corrupção e incompetência ao lidar com os jihadistas.
O comitê investigativo, cujos trabalhos se encerraram neste domingo (16/08) e foram entregues à Presidência do Parlamento, quer que o político seja levado a julgamento. Outras 30 autoridades, entre líderes militares e políticos, também foram investigadas — o ex-governador de Mossul Athil al Nujaifi também está na lista.
Agência Efe
Nas últimas semanas, Iraque tem sido palco de protestos da população contra corrupção e ineficácia do governo
“A causa da queda de Mossul permitiu que fossem cometidos crimes nunca vistos na história por parte de grupos terroristas como o EI, que causaram estragos no país e mataram cidadãos”, afirmou Hakem al Zamili, presidente da comissão.
Horas antes da divulgação do relatório, o atual premiê, Haider al Abadi, deu sinal verde para a instauração de uma corte marcial com o objetivo de julgar oficiais militares que abandonaram seus postos quando Ramadi, outra cidade iraquiana, caiu nas mãos do EI.
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A partir da queda da cidade, argumenta Zamili, foram realizados sequestro de milhares de mulheres, além de assassinatos de civis. “Mais de três milhões de iraquianos deslocados estão vivendo em circunstâncias trágicas”, apontou.
Protestos e pressão contra governo
O resultado do inquérito parlamentar vem a público no momento em que o governo atual enfrenta uma crise de aprovação popular. Fortalecidos por episódios de falta de energia no país, os protestos — houve diversos nas últimas semanas — contra escândalos de corrupção e ineficácia ao lidar com o grupo jihadista obrigaram o governo de Bagdá a lançar uma campanha para tratar do tema.
O governo iraquiano também anunciou hoje que irá de 33 para 22 os membros de seu gabinete. A decisão eliminaria três pastas — incluindo as de Direitos Humanos e Política da Mulher —, além de unificar outros departamentos. Bagdá também determinou a redução do orçamento para a contratação de guarda-costas pessoais para altos oficiais.
Além disso, como parte do plano de ação — que é apoiado pelo principal clérigo xiita do país, o aiatolá Ali al Sistani —, o governo iraquiano havia eliminado os três cargos de vice-presidência e três de vice-premiês que havia no sistema político local. A existência dos cargos, herança do governo que se ergueu após a invasão norte-americana ao país, em 2003, tinha como objetivo dar representação política igualitária à maioria xiita e às minorias sunita e curda.
Crise pós-queda de Mossul
O Iraque está imerso em uma grave guerra contra os jihadistas do EI, que em 10 de junho de 2014 tomaram o controle de Mossul, a segunda maior idade do país, e, a partir desse ponto, progrediram por outras zonas do norte, do oeste e do centro, onde instauraram um califado e impuseram o terror.
A perda de Mossul trouxe uma profunda crise política no Iraque que desembocou na renúncia forçada de al Maliki, substituído pelo atual presidente do Governo, Haidar al Abadi.
O resultado desta investigação corre uma semana após o parlamento ter aprovado uma série de medidas que incluem a supressão do cargo de vice-presidente, atualmente ocupado por al- Maliki.
* Com informações da Agência Efe