O regime de Bashar al Assad e os rebeldes sírios se acusaram mutuamente nesta terça-feira (19/03) de terem lançado projéteis com substâncias químicas na periferia de Aleppo. Como consequência desse ataque, ao menos 31 pessoas teriam morrido, dentre elas 21 civis, segundo a última contagem oficial.
Efe
Imagem fornecida pela agência de notícias estatal SANA com as supostas vítimas de armas químicas
O ministro da Informação sírio, Omar al Zubi, afirmou que o lançamento de mísseis entre o distrito de Nairab até o de Khan Al Assal era “o primeiro ato” do recém-anunciado governo interino da opositora CNFROS (Coalizão Nacional Síria), que elegeu seu primeiro-ministro nesta terça-feira. O Ministério de Relações Exteriores da Rússia indicou que estava tomando seriamente as alegações do governo sírio como um “desenvolvimento extremamente perigoso” por parte da oposição.
Várias fontes da oposição, no entanto, rejeitaram essa possibilidade e afirmam que foi o próprio regime de Damasco que disparou mísseis com armas químicas. Zaid Tlas, dirigente rebelde, assegurou à Agência Efe que os insurgentes não usariam armas químicas se algum dia tivessem acesso aos depósitos deste tipo de armamento.
NULL
NULL
Por meio de um comunicado, os rebeldes do ELS (Exército Livre Sírio) explicaram que o bombardeio causou sintomas de asfixia e intoxicação em dezenas de civis na cidade de Khan al Asal. Ali Bayanuni, porta-voz da CNFROS, disse que estava confirmado que o ataque químico contra a cidade foi perpetrado por forças regulares sírias e que a organização seria contra quem quer que usasse esse tipo de armas contra civis.
Ziad Haddad, médico em Aleppo, disse à Al Jazeera que as vítimas aparentavam ter sido expostas a pesticidas orgânicos em vez de armas químicas. Ele disse que vários pacientes chegaram na ala de emergência nesta terça-feira com casos de sufocação e pupilas comprimidas, sendo que “várias morreram de insuficiência respiratória”.
Além disso, “as vítimas exalavam um cheiro forte, ao passo que armas químicas são normalmente inodoras” e “o número de mortos é pequeno comparado ao que teria acontecido se armas químicas tivessem sido utilizadas”. Um fotógrafo da Reuters, que teve seu nome mantido desconhecido por segurança, disse ter visto várias pessoas sufocadas na rua e que sentia um forte cheiro de cloro.
Efe
Imagem fornecida pela agência de notícias estatal SANA com as supostas vítimas de armas químicas
Segundo o New York Times, o então ministro de Relações Exteriores da Síria, Jihad Makdissi, afirmou no ano passado que o governo usaria armas químicas somente em caso de ataque a inimigo externo, nunca contra os próprios sírios. O jornal também destacou o fato de o termo “arma química” ser muito indefinido, usado para substâncias letais como Sarin até gás lacrimogêneo e outros elementos inofensivos.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, assegurou que a Turquia não entregou armas químicas aos rebeldes sírios nem possui este tipo de armamento, segundo a emissora CNNTurk. Na declaração pela TV estatal, havia dito que “os governos de Erdogan e Catar têm a responsabilidade legal, moral e política por este crime”.
“Não temos armas químicas. O regime sírio não sabe o que está dizendo. É mentira. O emprego de armas químicas, por outro lado, se encaixa com a atitude da Síria”, alfinetou Erdogan.
ONU e EUA
A ONU afirmou nesta terça-feira que não pode confirmar os relatórios que indicam a ocorrência de um ataque com armas químicas no norte da Síria, mas considerou que a ação seria um “crime horrendo”.
“O secretário-geral está a par dos relatórios sobre esse ataque em Aleppo, mas as Nações Unidas não estão em posição de poder confirmá-los”, afirmou nesta terça-feira perante a imprensa o porta-voz da ONU, Martin Nesirky.
O funcionário lembrou que o secretário-geral do organismo, Ban Ki-moon, disse por “repetidas ocasiões” que o uso de armas químicas “por qualquer das partes” seria uma “grave” violação das leis internacionais humanitárias e uma “escandalosa escalada do sangrento conflito” no país.
Por sua vez, o governo dos EUA disse que por enquanto não pode comprovar que os rebeldes sírios estejam usando armas químicas. “Neste momento não temos evidências que sustentem essas acusações”, afirmou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney. “Não temos motivo para acreditar que essas alegações representam nada mais do que a contínua tentativa do governo de descreditar a legítima oposição e desviar atenção das próprias atrocidades cometidas contra o povo sírio”, disse Victoria Nuland, porta-voz do Departamento de Estado.
O presidente Barack Obama afirmou – e reiterou o que a Casa Branca tem dito nos últimos meses – que a confirmação de uso de armas químicas por parte do regime de Assad seria motivo suficiente para intervenção norte-americana no país.
Em dezembro do ano passado, o governo sírio advertiu para um possível uso de armas químicas por parte dos “terroristas” e reafirmou que as autoridades não as empregarão sob nenhuma maneira no conflito.
* Com informações de Efe, Al Jazeera, New York Times e The Guardian