Poucos dias antes de a nova lei do aborto entrar em vigor na Irlanda, o governo do país declarou nesta segunda-feira (22/07) estar “comovido” pela morte de uma mulher que viajou a Londres para interromper sua gravidez depois que um hospital irlandês se negou a realizar o procedimento. Ela faleceu horas depois dentro de um táxi.
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O caso ocorreu em janeiro de 2012, mas só foi revelado hoje pelo jornal The Irish Times, às vésperas da implementação da lei sobre o aborto que permitirá, pela primeira vez, a interrupção da gravidez em algumas circunstâncias e deve entrar em vigor antes de agosto.
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A mulher, cujo nome não foi revelado, tinha 32 anos e não era irlandesa, mas residia em Dublin e se submeteu a um aborto em uma clínica privada de Londres depois de um hospital irlandês se negar a interromper a gestação de cerca de 20 semanas.
Após passar um período em observação, ela recebeu alta, mas morreu algumas horas depois “de forma repentina” em um táxi, de acordo com um porta-voz da polícia londrina, que acrescentou que as autoridades ainda estão investigando o caso.
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“Estamos extremamente comovidos”, afirmou hoje a ministra irlandesa de Infância, a conservadora Frances Fitzgerald, cujo governo conseguiu aprovar, há duas semanas, na Câmara Baixa do Parlamento, a primeira lei de aborto da história irlandesa. Entretanto, o Senado ainda deve aprovar a lei. Enquanto isso, o aborto permanece ilegal no país, menos em caso de risco de morte para a mãe.
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O marido da mulher que morreu em Londres declarou ao Irish Times que ela já era mãe de uma menina de dois anos e estava sofrendo com a gravidez problemática. Ele também disse que o tratamento oferecido pelos médicos irlandeses poderia deixá-la estéril depois do parto.
Diante dessa possibilidade, o casal pediu que os médicos interrompessem a gestação, o que foi negado sob o argumento de que a vida da mãe não corria perigo e, segundo a Constituição irlandesa, o direito à vida do feto também deve ser respeitado.
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Questão polêmica
Esse não é o primeiro caso de morte relacionada a aborto a chamar a atenção na Irlanda. No ano passado, a indiana Savita Halappanavar, de 31 anos e grávida de 17 semanas, morreu de septicemia após dar entrada em um hospital de Galway (oeste da Irlanda) sofrendo um aborto espontâneo. Os médicos disseram que o feto não sobreviveria se fosse retirado, mas se recusaram a fazer o aborto dizendo que a Irlanda era um país católico e que a lei os impedia enquanto o coração do feto batesse, apesar do estado de saúde da mãe.
Wikicommons
Centenas de pessoas protestaram em Dublin depois da morte de Savita, a quem os médicos negaram um aborto
A morte de Savita gerou inúmeros protestos na Irlanda de pessoas pedindo por mudanças nas leis do aborto, as quais, segundo os manifestantes, provocaram o falecimento da mulher. As manifestações se estenderam à Índia e os diplomatas deste país pediram um inquérito oficial sobre o caso. Até mesmo a ONU se envolveu.
Segundo números oficiais britânicos, quase 4 mil mulheres da Irlanda viajam a cada ano ao Reino Unido para se submeter a um aborto. Para a ministra Fitzgerald, a morte da mulher no táxi “levanta questões” que foram abordadas na nova lei sobre o aborto irlandesa.
A ministra afirmou que “essas mulheres” que “voltaram ao nosso país” (após se submeter a um aborto no exterior) devem saber que têm a sua disposição tratamentos pós-operatórios “muito bons”.
Ainda assim, mesmo com a ampliação das possibilidades legais de aborto, a legislação irlandesa continuará sendo uma das mais restritivas da Europa.
O projeto de lei foi aprovado na Câmara por 127 votos a 31 e legaliza aborto em casos de emergência médica e risco para a vida da mãe, incluindo a possibilidade de suicídio. Entretanto, a nova legislação não prevê aborto em casos de estupro, por exemplo.
Estupro em Dubai
O estupro também é um assunto que suscita polêmicas em diversos países do mundo, como foi evidenciado pela condenação, na semana passada, de uma norueguesa em Dubai, sentenciada a um ano e quatro meses de prisão depois de dizer à polícia local que havia sido estuprada.
Hoje, ela foi libertada e autorizada a deixar os Emirados Árabes Unidos, depois de passar vários dias incomunicável em uma cela, até conseguir um telefone para pedir ajuda à sua família e ao governo da Noruega.