Sábado, 17 de maio de 2025
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O Grito dos Excluídos, conjunto de manifestações populares que acontecem no dia 7 de setembro, como contraponto às comemorações do “Dia da Independência”, tem apostado na criatividade e em novas formas de mobilização, diz Sandra Quintela, coordenadora nacional do movimento, acrescentando que o balanço preliminar da organização é de que o protesto nacional em 2022 foi um “sucesso”. 

Em entrevista a Opera Mundi, Quintela, que é membro da Rede Jubileu Sul Brasil, afirmou que as manifestações foram realizadas em inúmeras cidades interioranas e em todos os estados do país, com exceção do Distrito Federal, que remanejou a data para o dia 10 de setembro. 

“Nossa avaliação é de que o Grito de fato tem crescido e se fortalecido”, afirma, brincando que ele se estende “do Oiapoque ao Chuí”. Para acessar o mapa de locais que organizaram o protesto, clique aqui

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Para ela, a “grande riqueza” do protesto é a diversidade, a criatividade e as diversas formas de manifestações, que vão desde a realização de missas até passeatas. Em São Paulo, por exemplo, apesar do frio e chuva, a edição começou às 7h na praça da Sé, com distribuição de café da manhã para 5 mil pessoas. 

O movimento, diz, “aposta na criatividade e em novas formas de mobilização, com um trabalho de baixo pra cima”, que não se resume ao dia 7. “Não é uma data, é um processo e, nesse sentido, tem avançado em construir uma pauta antimilitarista”, declara, acrescentando que trata-se de uma tarefa “construir um contraponto à militarização do 7 de setembro” e que, para isso, é preciso envolver educação popular de base. 

Ainda sobre a data, a coordenadora do movimento defende que a independência do Brasil é “inacabada”, feita “pela e para a elite”, com objetivo de permanecer a estrutura de concentração da terra intocada, assim como a estrutura do trabalho escravizado. “Não é por acaso que estamos completando 200 anos sob esse contexto que vivemos.”

Em entrevista a Opera Mundi, Sandra Quintela afirma que protesto nacional foi realizado em todos os estados do país; em São Paulo, houve distribuição de café da manhã para 5 mil pessoas

Pablo Vergara MST/RJ

Mobilização é contraponto ao "Dia da Independência", comemorado em 7 de setembro

Por conta desse processo, que adiou em 66 anos a abolição da escravatura, diz ela, perpetuam-se por toda a história brasileira a violência, o racismo e a misoginia. “Essa é uma oportunidade enorme de, a partir da realidade concreta, refletirmos sobre essa independência incompleta”, acrescenta. 

O Grito dos Excluídos foi realizado este ano em sua 28ª edição, já que ele é organizado desde 1995. O lema desta vez foi “Brasil: 200 anos de (in)dependência. Para quem?” e contou com a organização e participação de movimentos como Central de Movimentos Populares (CMP), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Barragens (MCB), Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), além de pastorais, sindicatos e outros movimentos populares. 

Este ano, ao passo que o presidente Jair Bolsonaro mobilizou pela segunda vez nesta data seus apoiadores para ir às ruas, seu principal oponente nas urnas, Luiz Inácio Lula da Silva, por outro lado, resolveu, junto de sua agremiação, Partido dos Trabalhadores, não organizar ou participar de atos.

Quintela afirma que “recuar” neste momento, em que o PT está nas frentes das pesquisas de intenção de votos, “é muito simbólico dos sintomas da esquerda no Brasil, que tem medo de povo na rua e de povo organizado”. 

“É lamentável porque sentimos falta”, afirma, lembrando que outros partidos de esquerda, como a Unidade Popular (UP), o Partido Comunista Brasileiro (PCB), e alguns setores do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), ocuparam este espaço. 

A coordenadora diz ainda que é necessário apostar na organização popular e no povo nas ruas, porque “afinal, na rua é onde a gente faz política”. E que, o debate “complexo e profundo” sobre o papel dos partidos, movimentos sociais e o governo, deve ser feito no “provável governo de frente ampla” que teremos. 

Questionada sobre como convencer as pessoas que estão com receio de ir às ruas, ela diz que “o medo é o pior dos inimigos: imobiliza, paralisa e favorece o inimigo”, acrescentando que “nós somos a maioria, e a rua é nosso espaço de política”.