Representantes da guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) disseram nesta quarta-feira (26/03) que o processo de paz não deve estar “atrelado a vaivéns eleitorais” e denunciaram que grupos minoritários poderosos buscam atrapalhar as negociações de paz entre o governo e a guerrilha, iniciadas há quatro meses em Cuba.
“Um propósito nacional de tamanho significado e transcendência para toda a nação não pode estar sujeito à política eleitoral, vaidades pessoais e pressões de grupos minoritários, por mais poderosos que sejam e nem a limitações de prazos”, disse um comunicado do Secretariado das FARC.
No comunicado, a guerrilha reafirma estar confiante no rumo tomado pela mesa negociadora e pede o apoio da sociedade colombiana à negociação de paz que poderá terminar com o conflito armado no país. “Manter a negociação [em curso em Havana] a salvo é uma tarefa de todos os colombianos que almejam a paz”, diz o texto.
Divisões
O posicionamento da guerrilha coincide com um momento de polêmica e de divisão entre ex-presidentes colombianos e o atual governo sobre o processo de paz. Com a proximidade das eleições presidenciais de 2014, previstas para maio, as negociações estão sendo usadas tanto por opositores quanto apoiadores do governo de Juan Manuel Santos.
De um lado estão os ex-presidentes Álvaro Uribe (2002-2010) e Andrés Pastrana (1998-2002). Do outro, o governo Santos e o ex-presidente Ernesto Samper (1994-1998).
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O ex-presidente Uribe, declaradamente contra uma saída negociada para o conflito armado no país, ganhou o apoio de seu antecessor, Pastrana, que durante seu governo tentou negociar com as Farc, no fracassado processo de São Vicente de Caguán, departamento de Caquetá no Nordeste do país. Agora, Pastrana é um crítico do processo de paz iniciado por Santos.
Há menos de 15 dias, o ex-presidente anunciou a sua saída da Comissão Assessora de Relações Exteriores, após discordar do atual governo sobre a abertura das atas da comissão para apurar a responsabilidade dos últimos governos no episódio que terminou com a perda de parte do Mar do Caribe colombiano para a Nicaragua, em novembro do ano passado, após julgamento da Corte Penal Internacional de Haia.
As diferenças foram além do tema do fracasso em Haia. Pastrana declarou que há dois anos e meio não conversa com o presidente Santos e começou a criticar abertamente as negociações para um processo de paz, principal aposta de Santos.
Em entrevistas a jornais e emissoras de rádio e TV, Pastrana tem dito que Santos não tem um mandato para a paz. Ao jornal diário El Espectador, ele declarou que o país está dividido em relação à negociação com as Farc. “Me elegeram para fazer a paz [lembrando o processo de Cáguan], a Alvaro Uribe para a guerra e a Santos não foi dado um mandato para a paz”, disse.
Pastrana considerou como “gravíssimo” o fato de negociação de paz ser feita tão próximo do período das eleições presidenciais, que ocorrerão em maio do próximo ano. “As Farc podem estar tapando os olhos do presidente, porque sabem que ele quer se reeleger”, ressaltou. O ex-presidente também criticou o modelo de negociação. “Os diálogos de Caguán eram transparentes. Agora em Havana, as pessoas se perguntam o que estão negociando lá”.
Do lado do governo, a resposta às críticas veio pelo ministro do Interior, Fernando Carrillo, que qualificou de “lamentável” as declarações do ex-presidente Pastrana. “Assim ele [Pastrana] termina alinhado com a extrema direita do país e com o setor guerrista que está combatendo o processo de paz”, disse o ministro.
Em sua defesa, o governo também lembrou que “a paz tem um valor constitucional, por isso o presidente Santos pode iniciar e conduzir um processo pacificador no país”. Por sua vez, o ex-presidente Ernersto Samper saiu em defesa de Santos. Um dos principais defensores da mesa de negociações, ele destacou que as críticas de Pastrana não têm fundamento. “Pastrana criticando o processo de paz de Juan Manuel Santos é como o diabo ensinando catequismo ao papa Francisco”, declarou.