A crise econômica não é somente consequência da especulação imobiliária, da falta de crédito, dos títulos podres, da queda no preço do petróleo e das commodities. Há também uma relação de causa e efeito com o combate ao terrorismo, na opinião do especialista em antimilitarismo Pere Ortega, coordenador do Centro de Estudos para a Paz Josep Maria Delas.
Os recursos destinados às guerras do Afeganistão e do Iraque representam uma perda nos custos de oportunidade, segundo ele. Ou seja, o que se gasta em armas poderia ser investido em outro setor da economia, como a produção de bens e serviços, que, por sua vez, criariam mais postos de trabalho.
Só os Estados Unidos terão investido quase um trilhão de dólares (2,3 trilhões de reais) desde os ataques de 11 de setembro de 2001 até o final de 2009, segundo o
Sipri (Stockholm International Peace Research Institute).
Entrevistado para comentar o aniversário de 5 anos dos atentados terroristas em Madri, Ortega disse acredita que os gastos militares dos EUA e de países europeus geram prejuízo ao desenvolvimento, uma vez que o armamento é fabricado por indústrias que costumam vender para o Estado, formando um círculo que se retroalimenta e tem pouca repercussão no mercado econômico.
“Não há competição no mercado, isso gera o endividamento do Estado. E pouco do que é gasto em pesquisa e desenvolvimento é repassado à indústria civil”, avalia.
O especialista conta que o governo espanhol diminuiu os gastos nesse setor em aproximadamente 2% no orçamento de 2009. Ainda assim, vai gastar aproximadamente 18,5 bilhões de euros (55,5 bilhões de reais) em armamento, deslocamento de tropas e desenvolvimento de novas armas. “Essa diminuição é pouco significativa porque a Espanha estava dedicando quase 2% do PIB a gastos militares. O gasto vai continuar aumentando nos próximos anos. Agora só caiu em conseqüência da crise econômica”.
Japão e Alemanha
Para explicar o raciocínio, Ortega cita os exemplos do Japão e da Alemanha, que depois da Segunda Guerra Mundial não dedicaram nenhum esforço à manutenção de exércitos ou à produção de armamentos, concentrando-se em pesquisas em prol do setor civil. “Eles se converteram em grandes potências econômicas mundiais, graças, principalmente, ao fato de não se dedicarem às Forças Armadas. As armas destroem riqueza”.
Vale fazer, no entanto, algumas ressalvas, uma delas no âmbito histórico. Japão e Alemanha perderam a guerra e foram obrigados a se desarmar e desmilitarizar, conforme Estados Unidos, Reino Unido e a então União Soviética determinaram na Conferência de Potsdam.
A outra vem de Luis Moreno Gallego, professor de economia da Universidade Complutense de Madri. Para ele, é preciso tomar cuidado com esse argumento, pois os gastos com armamentos seriam baixos no caso espanhol, dentro do contexto da crise.
“Essa tese faz sentido para países que gastam fortunas na guerra e acabam desequilibrando sua balança comercial e se endividando. Mas não vale para países como a Espanha, por exemplo, que não investem uma quantidade tal de dinheiro que possa desestabilizar sua economia”, conclui.
Os Estados Unidos e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), somados, são responsáveis por 70% dos gastos globais com defesa, segundo o professor de economia canadense Michel Chossudovsky, autor do livro America's War on Terrorism.
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