A greve do sindicato dos trabalhares de montadoras automobilísticas nos Estados Unidos (UAW) abriu uma “guerra entre as partes” antes que a paralisação fosse iniciada, em 15 de setembro. A informação é do site de notícias The Intercept.
A reportagem, publicada na terça-feira (19/09), diz que, enquanto a UAW mantinha as três grandes montadoras Ford, General Motors e a Stellantis em dúvida sobre os planos de greve do sindicato, os fabricantes de automóveis faziam um “esforço fracassado para evitar os efeitos da ação trabalhista sem precedentes”.
Isso por que, de acordo com o Intercept, o sindicato pretendia interromper as operações das empresas com o menor número possível de trabalhadores, “basicamente forçando as empresas a pagar os trabalhadores mesmo durante o período de greve”.
Já as montadoras durante este tempo “tentavam prever com precisão quais fábricas seriam atingidas e reorganizar a produção e a distribuição para minimizar as perdas”. O resultado foi que nenhuma das empresas acertaram os planos do UAW. As tentativas foram falhas porque o sindicato não anunciou as fábricas que seriam atingidas pela paralisação até a noite anterior do início da greve.
Além disso, em uma manobra pensada pelo sindicato, alguns membros do UAW em fábricas de automóveis da Geórgia, Tennessee e em Ohio acessaram redes sociais, como o Facebook e X (antigo Twitter) para compartilhar “relatos de fechamentos parciais de fábricas e informações incorretas que levaram ao caos nas fábricas em todo o país”.
Com isso, Scott Houldieson, que trabalha na fábrica de montagem da Ford em Chicago, disse ao veículo que os “chefes da empresa pareciam não ter ideia de onde as greves planejadas ocorreriam”. A atitude da entidade sindical fez com que fábricas parassem de funcionar com antecedência ou mesmo peças fossem transferidas para unidades que sequer foram atingidas pela greve.
O Intercept avaliou a estratégia do UAW como uma lembrança às greves de 1930 do setor, “quando os trabalhadores 'sentavam-se' no chão de fábrica, ocupando fábricas e usando táticas de guerrilha para conquistar o tipo de contrato que tornou as montadoras o padrão ouro para os empregos na indústria dos EUA”.
A publicação exemplifica mencionando a greve de Flint, Michigan, em 1936: “os trabalhadores espalharam um boato de que iriam paralisar uma fábrica e, quando o empregador agiu com base nessa informação falsa, eles entraram sorrateiramente em uma fábrica diferente que era seu alvo desde o início. Essa ação levou ao primeiro reconhecimento do UAW nas três grandes empresas de automóveis”
Twitter/UAW
Sindicato não anunciou fábricas que seriam atingidas pela paralisação até a noite anterior do início da greve
Segundo Brandon Mancilla, um dos diretores do UAW em entrevista ao veículo, as montadoras estariam “criando mais problemas para si mesmas do que estariam enfrentado se tivessem chegado a um acordo com o sindicato”.
A falta de apoio de Biden ao sindicato pode custar sua reeleição, aponta o jornal: “no estado decisivo de Michigan, onde dezenas de milhares de membros do UAW trabalham, o sindicato exerce uma influência descomunal sobre a política estadual e, por sua vez, sobre as disputas em nível nacional”.
“Aproveitando o apoio tímido do governo Biden à greve do UAW, Donald Trump anunciou que falaria com os trabalhadores do setor automotivo neste mês, o que provocou a condenação de Fain”, também analisa a publicação.
Situação atual da greve do UAW
“Até o momento, cerca de 13.000 trabalhadores estão paralisados, afetando a produção de carros clássicos, como o Jeep Wrangler e o Ford Bronco, e outros devem se juntar a eles se as negociações de contrato do sindicato não forem concluídas até o final da semana”, informa a publicação.
As principais exigências do sindicato no setor são “semanas de trabalho mais curtas, o retorno de pensões e benefícios e aumentos salariais para alinhar os salários aos níveis anteriores”.
O Intercept também menciona que tal estratégia de greve é fruto da liderança do presidente do sindicato, Shawn Fain, eleito em março. Outra abordagem diferente usada por Fain foi o não apoio a Biden como presidente até que ele apoie o UAW nas decisões para “sindicalizar as instalações de veículos elétricos”.
“Fui claro com as Três Grandes em cada passo. E vou ser muito claro novamente agora. Se não fizermos um progresso sério até o meio-dia de sexta-feira, 22 de setembro, mais locais serão chamados a se levantar e aderir à greve”, instou o sindicalista.