Com a guerra na Ucrânia como pano de fundo, que dificultou o comércio de trigo, milho e girassol, os preços dos alimentos básicos bateram recordes em 2022. A afirmação foi feita nesta sexta-feira (06/01) pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
As previsões, que já vinham sendo anunciadas há meses, foram confirmadas pela agência da ONU: a invasão da Ucrânia pela Rússia, quinto e primeiro exportadores mundiais de trigo, respectivamente, que representam 30% da oferta mundial dos grãos, mergulhou os mercados de alimentos em uma era de incertezas que já dura quase um ano. De acordo com a FAO, o aumento começou poucos dias após o início da ofensiva russa, em 24 de fevereiro, quando os preços mundiais dos alimentos atingiram “seus níveis mais altos já registrados”.
Durante o ano de 2022, o índice de preços dos alimentos, que acompanha a variação dos valores internacionais de uma cesta de produtos básicos, se estabeleceu em 143,7 pontos de média, “ou seja, mais 14,3% do que o valor médio de 2021”, indicou a FAO. O recorde anterior remontava a 2011, quando houve crise alimentar e distúrbios pela fome na África, atingindo um índice de 131,9 pontos.
A invasão do centro do trigo da Europa tornou evidentes as fragilidades e dependências do setor, especialmente dos países pobres, gerando temores de uma nova crise alimentar global.
“Furacão da fome” foi evitado
O pior cenário, com “furacões de fome”, como temia a ONU, foi evitado graças à retomada das exportações ucranianas em meados de 2022. Mas os preços continuarão altos em 2023, sempre em meio à forte volatilidade.
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Ucrânia e Rússia são o quinto e primeiro exportadores mundiais de trigo, respectivamente
No mercado europeu, o trigo subiu para € 438 por tonelada em 16 de maio, depois de começar o ano cotado a € 270. Com uma oscilação sempre anormal, acabou por se situar em cerca de € 315 no final de dezembro, o que representa um aumento de quase 17% em um ano.
Como a Ucrânia também é um grande produtor de óleo de girassol, o valor médio do Índice de Preços dos Óleos Vegetais da FAO também bateu recorde ao longo do ano. Os preços da carne e dos laticínios, por sua vez, atingiram “os níveis anuais mais altos desde 1990”, informou a agência da ONU.
Retomada as exportações de trigo ucraniano
Os preços de alguns alimentos voltaram a cair em abril e diminuíram de forma constante nos últimos nove meses. O índice da FAO de dezembro de 2022, com média de 132,4 pontos, caiu 1,9% em relação ao nível do mês anterior e ficou abaixo do nível de um ano atrás.
A tensão diminuiu ainda mais em julho, após a assinatura de um acordo para retomar as exportações de trigo ucraniano pelo Mar Negro. Um “corredor” muito disputado e negociado sob os auspícios da ONU, que permitiu a retirada de 15 milhões de toneladas de grãos e oleaginosas.
“É bom que os preços dos alimentos se acalmem após dois anos muito voláteis”, declarou Máximo Torero, economista-chefe da FAO. No entanto, ele alerta que os valores mundiais dos alimentos “continuam altos, com muitos produtos básicos próximos a níveis recordes, com preços de arroz em alta e muitos riscos associados ao abastecimento futuro”.
Atualmente, 35% dos estoques de trigo estão na Rússia, que colheu mais de 100 milhões de toneladas do cereal e confirma assim sua posição de árbitro.