“Perante a consciência do mundo, acuso a ITT de tentar provocar uma guerra civil em meu país. Isso é o que chamamos de ação imperialista. A agressão das grandes empresas capitalistas tenta impedir a emancipação das classes populares”. Em 4 de dezembro de 1972, o então presidente chileno Salvador Allende (1970-1973) discursava na 27º sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas denunciando as ações de empresas norte-americanas contra o povo chileno.
O que viria a ser um discurso histórico, também precedeu em um ano o golpe de Estado, apoiado pelos Estados Unidos, que depôs o regime democrático no Chile até 1990 e teve como principal rosto o ditador Augusto Pinochet.
Segundo o jornal La Vanguardia, o discurso denunciador de Allende resultou em “um dia muito emocionante” ao qual “os chilenos nunca avaliaram” seu significado. Para a publicação, a partir das palavras do presidente fundador do Partido Socialista local, “o mundo encarou o processo político do Chile com tremenda unanimidade e simpatia”.
Sem medo de defender as raízes socialistas de seu governo em meio a retaliações que o país já sofria dos Estados Unidos, Allende afirmou: “Eu presido um governo que não é socialista, mas que abre e abrirá sem hesitação o caminho para o socialismo, dentro do pluralismo, da democracia e da liberdade”.
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Afirmando que "a revolução não é destruir, mas construir e criar diferentes formas de convivência", Allende concluiu sua fala na ONU
Ao denunciar as ações das empresas norte-americanas, principalmente empresas de cobre e telefonia (ITT), o então presidente declarou que para alcançar seus objetivos com a nação chilena “teve que ferir interesses poderosos, fundamentalmente estrangeiros, e os interesses nacionais dos monopólios, latifúndios e bancos”.
Afirmando que “a revolução não é destruir, mas construir e criar diferentes formas de convivência”, Allende concluiu sua fala na ONU deixando os representantes de diversos países com conhecimento sobre o que se vivia no Chile naquele momento. Apesar do alerta do ex-presidente, o mundo não impediu os horrores da ditadura financiada pelos Estados Unidos que assombrou o país latino-americano até o final da década de 90.
(*) Com informações do jornal La Vanguardia e El País