O compositor russo Piotr Ilitch Tchaikovsky apresentou no Teatro Bolshoi, de Moscou, em 20 de janeiro de 1877, o balé que montou com Julius Reisinger, “O Lago dos Cisnes”, sem sucesso. O mais famoso dos balés só ganharia notoriedade a partir de 1895, quando Marius Petipa e Lev Ivanov readaptaram a coreografia.
A ideia do Lago dos Cisnes nasceu em 1871, quando Tchaikovsky passava o verão em Kamenka, Ucrânia. Naquele momento de lazer entregou-se à criação de um balé-miniatura dedicado aos sobrinhos, e o chamou de ‘Lededione Ozero’ (O Lago dos Cisnes), inspirado num conto do alemão Johann Musäus.
A diversão animou Tchaikovsky, que a transformou em um projeto de fôlego, em quatro atos. Apresentado ao dramaturgo Vladimir Begitchev, dirigente dos Teatros Imperiais de Moscou, foi aprovado com entusiasmo.
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Representação de O Lago dos Cisnes, obra-prima de Tchaikovsky
Anos mais tarde, em São Petesburgo, o francês Marius Petipa, brilhante dançarino e coreógrafo, remontou-o inteiramente, com a colaboração do assistente, o russo Lev Ivanov. Com esta versão, mantida até o presente, o balé reestreou, em 17 de janeiro de 1895, dois anos após a morte do compositor.
O Lago dos Cisnes passou a ser referência obrigatória no repertório do balé clássico. O enredo é encantador, entremeado de nuances e conduzido a um triste epílogo.
O balé conta a história da princesa Odete que, transformada em cisne. Ela retoma sua verdadeira forma em uma noite especial. O príncipe Siegfried apaixona-se por ela e deseja romper o encantamento, escolhendo-a como esposa durante o baile real. Mas Rothbart, o bruxo maligno que a enfeitiçara, substitui Odete por sua própria filha, Odile.
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Enganado de início, Siegfried descobre o estratagema. Sôfrego, corre à floresta, almejando reencontrar Odete e ratificar-lhe o amor. A princesa o perdoa. Mas o lago se agiganta, sob a ira do bruxo. Odete e Siegfried são atraídos pelas águas e se afogam.
Inesquecíveis trechos da obras vem merecendo ao longo de décadas o entusiasmo do público. O ‘pas des deux’, no início do ato I, integrado por duas valsas, produz uma sugestiva diversidade de matrizes. Mas é no tempo da valsa do 1º ato que O Lago dos Cisnes revela toda a sua magnitude. Num lá maior cativante, Tchaikovsky constrói uma valsa antológica. Trata-se da grande celebração em que Siegfried e Odete trocam juras de amor eterno.
Há a passagem célebre do 2º ato em que o fagote sublinha a alegria dos cisnes pela notícia do amor de Odete. O temor soma-se ao heroísmo na cena final do 4º ato quando cinco movimentos – andante, allegro aggitato, alla breve, moderato e maestoso – sustentam a atmosfera da destemida saga do príncipe, em busca do perdão de Odete.
O autor
Tchaikovsky nasceu em Vyatka, Rússia, em 7 de maio de 1840, segundo de uma família de cinco filhos. Ainda criança foi estudar na capital do Império, São Petersburgo. Sua personalidade já tinha as características que viriam a marcar sua vida adulta: muito inteligente e emotivo, embora bastante impetuoso. Por insistência da família, foi estudar Direito, conseguindo um emprego no ministério da Justiça.
Com pouco mais de vinte anos, “velho demais” para os cânones musicais, resolveu ingressar no conservatório local. Apesar de gostar de Mozart, não sabia quem era Schumann e não tinha a menor idéia de quantas sinfonias Beethoven havia composto. Entretanto, um grande esforço, coordenado pelo professor Anton Rubinstein, fez com que o aluno progredisse rapidamente.
Em 1866, foi convidado por Nicholas Rubinstein, irmão de Anton, para lecionar no novo Conservatório de Moscou. Datam desse período suas primeiras composições sérias, em especial a Primeira Sinfonia, intitulada “Sonhos de Inverno”. O poético título não escondia uma melancolia sempre presente em suas obras.
Os primeiros dez anos em Moscou foram particularmente difíceis. Além das constantes crises de depressão, não obtinha o sucesso desejado. Teve oportunidade de conhecer alguns dos grandes contemporâneos – Liszt, Tolstoi, Wagner – e desenvolver a carreira de compositor. Quartetos de Cordas, Sinfonias nº 2 e nº 3, óperas Francesca da Rimini e Romeu e Julieta e o famoso Concerto para Piano em Si Bemol Menor.
Há uma anedota sobre esse concerto, que viria a consagrar Tchaikovsky mundialmente. A obra foi dedicada à Nicholas Rubinstein, que, quando a ouviu pela primeira vez, disse que “duas ou três páginas poderiam se salvar”, mas que “o resto tinha de ser refeito”. Tchaikovsky não mudou uma linha da partitura, que foi dedicada então ao pianista Hans Von Bullow, que o executou com enorme sucesso.
Sua vida pessoal, porém, estava em ruínas. De repente, uma carta mudou completamente a situação. Nadejda von Meck, da alta aristocracia russa, envia-lhe uma carta expressando admiração e a intenção de patrociná-lo. O contrato de patrocínio especificava que os dois jamais poderiam se encontrar. Trocaram muitas cartas, dividindo esperanças, sonhos e música.
Outros fatos marcantes da data
1816 – Estreia da ópera “Barbeiro de Sevilha”, de Rossini
1835 – Cidade chilena de Concepción é destruída por terremoto
1967 – Nasce o cantor Kurt Cobain, ícone do Nirvanna
A produção do compositor crescia, junto com sua fama: a Quarta Sinfonia – já marcada por um tema recorrente simbolizando o “Destino”, Eugene Onieguin, sua ópera mais famosa, o famoso e difícil Concerto para Violino, a ópera Manfredo; a 5ª Sinfonia; a ópera Dama de Paus; o balé Quebra-Nozes, ainda hoje um grande sucesso.
Esses anos felizes terminaram em 1890, quando do rompimento com Von Meck. Três anos depois, em sua propriedade rural, completa a sua obra mais soturna e grandiosa, a 6ª Sinfonia “A Patética”. No dia da estreia, em 6 de novembro de 1893, chega a notícia da morte de Tchaikovsky, atacado de tifo, aterrorizando a plateia.
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