O neurologista e psiquiatra austríaco Sigmund Freud morre de câncer em Londres, aos 83 anos. De ascendência judaica, Freud tinha deixado Viena em 4 de junho de 1938 em seguida às perseguições das quais ele também era vítima. Seus livros são queimados em praça pública em Berlim e a psicanálise é denunciada pelos nazistas como uma “ciência judaica”. Seus quatro irmãos permaneceram na Áustria de onde foram levados aos campos de concentração e mortos. Sua filha Ana foi a única de seus seis filhos que abraçaria mais tarde a profissão de psicanalista.
Na efervescência intelectual que caracterizou a virada do século 19 para o século 20, o médico e neurologista Sigmund Freud se destacou ao entregar ao mundo uma nova disciplina médica, a psicanálise. Rompendo com a alternativa entre causas físicas e a simulação para compreender a histeria, desenvolveu uma abordagem inovadora do espírito humano, conferindo um papel fundamental ao inconsciente.
Freud nasceu em Freiberg na Moravia, atualmente República Tcheca, em 6 de maio de 1856. Rapidamente sua família deixaria esta cidade acossada pelo anti-semitismo para se instalar em Leipzig e depois em Viena onde o jovem Sigmund faria brilhantes estudos.
Max Halberstadt/Wikipedia
Sigmund Freud, em 1922
Aluno brilhante que há muito ultrapassara seus colegas, Freud recebe o diploma equivalente ao ensino médio com a menção excelente. Pensando durante certo tempo em se voltar ao direito, Freud ingressa finalmente na Universidade de Medicina de Viena.
Freud termina seus estudos universitários em março de 1881. Durante o curso, imediatamente se interessou pelo sistema nervoso. No ano seguinte, passou a trabalhar num serviço de medicina geral antes de passar, em 1883, para o serviço especializado de psiquiatria.
O jovem médico obtém uma bolsa que lhe permite fazer um estágio no hospital Salpêtrière em Paris. Em sua estada, freqüentou o curso do doutor Charcot, o neurologista mais renomado de sua época. Freud aprofundou seus conhecimentos sobre a histeria e a hipnose. Este experiência, acrescida de uma formação em hipnose anos mais tarde, seria fundamental para suas pesquisas sobre a paciente Anna o. Estimulado pelo Dr. Charcot que o vê como um gênio, Freud não esconde sua decepção quanto a cidade de Paris em geral.
Fruto de uma colaboração entre Joseph Breuer e Sigmund Freud, “Estudos sobre a histeria” se inscreve entre os trabalhos dessa época sobre a histeria e seu tratamento por hipnose. O caso de Anna O. é amplamente estudado e é nessa ocasião que surgem os conceitos inovadores de Freud, que anunciam o nascimento da psicanálise. O lugar da memória nesse contexto é extremamente importante e a idéia de uma tensão entre uma força consciente e uma força inconsciente para reprimir certas lembranças estabelece as bases de uma teoria do consciente, do pré-consciente e o inconsciente.
Freud publica o ensaio “Da Interpretação dos Sonhos” em 1900 que havia escrito um ano antes. A primeira vez que o sonho era objeto de uma análise científica sistematizada. Não era considerado como algo absurdo ou gratuito e sim percebido como portador de um sentimento que era necessário saber desvendar. Nessa mesma época, Freud descreve pela primeira vez o conceito de associação livre, que substitui a hipnose para neutralizar a inibição. A associação livre consiste em falar livremente, sem qualquer censura, a fim de deixar emergir os elementos reprimidos no inconsciente. Enquanto a análise de Anna O. permite esboçar conceitos e um método, a interpretação dos sonhos é, de qualquer modo, o ato de nascimento da psicanálise.
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Isolado e duramente criticado até 1906, Freud viu a partir dessa data surgirem jovens médicos que reconheciam seu trabalho e lhe seguiam os passos. Entre eles, um suíço de nome Carl Gustav Jung se distinguia por seu talento mas também por sua personalidade. Durante anos, manteriam correspondência, porém Jung possuía sua própria visão de psicanálise e as diferenças de pontos de vista com Freud fariam finalmente separá-los em 1915.
Em 1920, Freud escreve “Além do princípio do prazer” e formula aquilo que chamamos o segundo tópico. Por tópico, se define uma teoria de organização do espírito entre as diferentes forças que o constituem. O Ego, o Superego fazem então sua aparição, juntando-se ao consciente, pré-conciente e o inconsciente do primeiro tópico.
Há muito isolado, Freud acede no começo dos anos 1930 a um reconhecimento oficial e prestigioso. Pelo conjunto de seus trabalhos, recebe o Prêmio Goethe em 28 de agosto de 1930, distinção atribuída a um cientista por seu aporte cultural. Freud ganhava a estima da Alemanha. Mas a chegada dos nazistas ao poder logo dissiparia este sucesso: os livros de Freud se juntaram aos de Marx, Albert Einstein, Brecht, Mann e Zweig para arder na fogueira dos autos-de-fé.
Após ver seus livros queimados pelos nazistas em 1934, Freud, então acometido de câncer, decide se exilar na Inglaterra para escapar da Gestapo. De origem judaica e autor de teorias que não gozavam do favor do novo regime alemão, Freud prefere fugir com sua família para Londres, onde vem a falecer em 23 de setembro de 1939.
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