Em 16 de junho de 1961, o bailarino Rudolf Nureyev, do Balé Kirov, da então União Soviética, deserta de seu grupo durante uma temporada do elenco em Paris. A perda de um dançarino com a qualidade técnica e a genialidade do desertor Nureyev provocou abalo no prestígio artístico da URSS e despertou grande atenção internacional.
Nureyev tornou-se uma estrela do bale russo em 1958 quando, contando com apenas 20 anos de idade, conquistou o posto de um dos solistas do conceituado Balé Kirov. As companhias de bale do Bolshói (de Moscou) e do Kirov (de Leningrado) eram duas das joias da diplomacia cultural da União Soviética e suas performances receberam fartos elogios da crítica e o aplauso entusiástico do público onde quer que se apresentasse, conferindo ao mesmo tempo amplo respeito com relação às artes da URSS. Em junho de 1961, a Companhia Kirov terminava uma temporada em Paris. No dia 16 de junho, quando a companhia já se preparava para tomar o avião de volta para casa, Nureyev afasta-se do grupo e insiste que quer permanecer em Paris. Segundo testemunhas, outros membros do grupo suplicaram a Nureyev que se juntasse a eles e retornasse à União Soviética. O bailarino recusou o pedido e correu para junto do pessoal de segurança do aeroporto, gritando “Protejam-me!” Os funcionários da segurança tomaram Nureyev sob sua custódia, quando então solicitou asilo político para garantir sua permanência em território francês.
A companhia do Kirov ficou transtornada com a perda do astro e os guardas de segurança soviéticos espumaram de ódio com a deserção do bailarino. Finalmente a companhia voltou a Moscou sem Nureyev.
A defecção, em virtude do elevado perfil artístico de Rudolf Nureyev, caiu como uma dupla bomba na União Soviética. Em primeiro lugar porque redundava em demérito para o Balé Kirov que apresentava o jovem prodígio como sua estrela maior nas excursões pela Europa. Depois porque danificou severamente a imagem da União Soviética quanto à liberdade de criação artística.
Nureyev prosseguiu com sua exitosa carreira após a deserção. Durante os 30 anos que se seguiram ele dançou com o Royal Ballet da Inglaterra e com o American Ballet Theatre, sempre com imenso brilho. Ele era bastante assediado pelas companhias como dançarino e também como coreógrafo. Chegou a fazer alguns filmes, inclusive um desastroso remake em que recriava o famoso astro do cinema mudo Rodolfo Valentino. Em 1983, assumiu as funções de diretor de balé da Ópera de Paris. Em 1989 retornou à União Soviética para uma breve temporada. Morreu em Paris em 1993, aos 55 anos.
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