O capitão Alfred Dreyfus é condenado em 22 de dezembro de 1894 à prisão perpétua sob acusação de espionar em proveito da Alemanha, devendo cumpri-la na penitenciária da ilha do Diabo, na Guiana, em confinamento solitário. Destituído de todos os postos e títulos, chega alguns dias depois ao “inferno verde”. A França está então dividida em duas. Os ‘dreyfusistas’ e os ‘antidreyfusistas’ se opõem encarniçadamente até que o comandante Picquart pede a revisão do Caso Dreyfus, quatro anos mais tarde.
O caso vem à tona quando um espião francês infiltrado na embaixada alemã descobre um documento manuscrito recebido pelo major Max von Schwartzkoppen, adido militar alemão em Paris, que listava documentos secretos franceses. O exército francês, à época bastião de monarquistas e católicos ultraconservadores, tenta descobrir o traidor. A suspeita recai sobre Dreyfus, um judeu alsaciano de família rica. Em seguida, a imprensa desata a fazer acusações contra a ‘traição judaica’.
A vocação militar de Alfred Dreyfus tem origem na anexação da Alsácia e Lorena à Alemanha em 1871, quando tem apenas 12 anos. Decide então que iria se alistar ao exército para fazer a Alsácia voltar a ser francesa. Em 1878, ingressa na Escola Politécnica de onde sai como oficial de artilharia. Em 1893, assume o posto de capitão adido ao Estado-Maior no Ministério da Guerra. Um ano depois é acusado de traição por ter passado informações sobre a artilharia francesa para a Alemanha. Sua função e suas origens judaicas alsacianas fazem dele um culpado ideal. Após um julgamento sumário, é condenado ao exílio em prisão perpétua.
Malgrado os elementos processuais que provam sua inocência, a culpabilidade do capitão Dreyfus é confirmada pelo Conselho de Guerra de Rennes. É degradado em janeiro de 1895 no pátio da Escola Militar de Saint-Cyr em Paris, debaixo de insultos anti-semitas da multidão. A justiça militar mostra-se inflexível diante daquele que havia sido condenado por ter traído a pátria apesar de Alfred Dreyfus continuar a clamar por sua inocência.
Zola
Em 1896, o coronel Picquart intercepta um documento acusando o major Ferdinand Esterhazy de ser o verdadeiro autor do documento incriminatório. Picquart é silenciado pelos superiores, mas em 1987 o irmão de Dreyfus, Mathieu, chega à mesma conclusão, o que faz aumentar a pressão pela reabertura do caso. Esterhazy é levado a julgamento em janeiro de 1898 ante uma corte marcial e absolvido em questão de minutos.
Emile Zola publica então no jornal L’Aurore seu célebre ‘J’accuse’, dirigido ao presidente da República, Félix Faure, acusando os juízes militares de terem obedecido ordens do Ministério da Guerra para absolver o major. Zola foi processado por calúnia e sentenciado à prisão, mas conseguiu fugir para a Inglaterra. É a estréea daquilo que viria a ser conhecido como ‘O Caso Dreyfus’, a mais grave crise política da III República.
Mais tarde, em 1898, descobre-se que muito da evidência contra Dreyfus havia sido forjada pelo coronel Henry, da inteligência do exército. Henry comete suicídio em agosto daquele ano e Esterhazy foge para a Inglaterra. Nessa altura, a revisão da sentença de Dreyfus torna-se imperativa. O caso é levado a uma corte de apelação, já com o socialista Waldeck-Rousseau como primeiro-ministro, que ordena uma nova corte marcial. Uma profunda indignação corre o mundo – no Brasil, Rui Barbosa escreve incisivos artigos – quando a corte, incapaz de admitir seu erro, condena Dreyfus novamente. Em razão, desta vez, de circunstâncias atenuantes, é sentenciado a dez anos de reclusão por “alta traição”.
Dez dias depois, o presidente Émile Loubet concede-lhe o indulto. Em 12 de julho de 1906, a Corte Suprema de Apelações o reabilita, agora no posto de major, e condecora-o com a Legião de Honra. Em 1930, sua inocência é reafirmada com a publicação dos papéis de Schwartzkoppen. Morre de ataque cardíaco num outro 12 de julho, em 1935.
O resultado imediato do Caso Dreyfus foi unir e levar ao poder na França os partidos de esquerda. O antimilitarismo e o anticlericalismo se ampliam e a influência do exército declina. Em 1905, o Estado e a Igreja são separados constitucionalmente.
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