A revogação do Édito de Nantes pelo rei Luís XIV, em 18 de outubro de 1685, enfraqueceu a economia da França por forçar a saída de um segmento altamente qualificado e produtivo da nação: os protestantes.
O Édito de Nantes foi promulgado em 1598 pelo rei Henrique IV, destinado a restaurar a paz interna na França, rompida com a Guerra das Religiões. O decreto definiu os direitos dos protestantes franceses, os huguenotes. Incluíam-se a plena liberdade de consciência e de culto privado; a liberdade de culto público onde quer que tivesse sido previamente autorizado e sua extensão a numerosas outras localidades e áreas de nobres protestantes; plenos direitos civis, inclusive o de exercer função pública; subsídios da corte às escolas protestantes; tribunais especiais compostos por juízes católicos e protestantes para julgar casos envolvendo protestantes; permissão da organização da igreja protestante na França; e controle protestante sobre cerca de 200 cidades então governadas pelos huguenotes, inclusive fortalezas como a La Rochelle, com a coroa contribuindo para a manutenção das guarnições militares e fortificações. Esta última condição, originalmente concebida para viger por um período de oito anos, foi subsequentemente renovada, servindo como garantia aos huguenotes de que seus outros direitos seriam respeitados.
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Reprodução da versão original do Édito de Nantes
Na prática, entretanto, o Édito conferiu ao protestantismo francês a condição de um Estado dentro do Estado, incompatível com a política de centralização dos cardeais Richelieu e Mazarin e de Luís XIV. A queda de La Rochelle ante o exército de Richelieu, em 1628, e a Paz de Alais, em 1629, marcaram o fim da política de concessões aos huguenotes. Já a partir de 1665, Luis XIV havia sido persuadido pelos seus conselheiros católicos a embarcar numa política de perseguição aos protestantes. Por fim, em 1685, declarou publicamente que a maioria dos protestantes se havia convertido ao catolicismo de modo que o Édito de Nantes se tornara supérfluo e não lhe restava outra coisa a fazer se não revogá-lo. Não se permitiu a nenhum protestante francês deixar o território. Àqueles que abertamente mantinham sua fé, se prometeu o direito ao culto privado e que não seriam molestados. Contudo, a promessa não foi cumprida. Milhares fugiram para o exterior, escapando do sistema de dragonnades, que obrigava os protestantes a deixar o país ou converter-se ao catolicismo – e muitas províncias ficaram virtualmente vazias.
A aplicação implacável da revogação fez crescer o ódio da Inglaterra e dos Estados protestantes alemães ao rei francês. Seu objetivo – fazer da França um Estado católico – foi alcançado apenas no papel, já que muitos cultivavam secretamente sua fé no protestantismo enquanto o prestígio da Igreja Católica declinava devido à intolerância de Luís XIV. Por outro lado, a revogação do édito trouxe graves consequências políticas e diplomáticas ao criar um sentimento anti-francês. Em 1686, dirigentes tanto católicos como protestantes fundariam a Liga de Habsburgo, aparentemente um pacto defensivo para proteger a região do rio Reno, mas que era na realidade uma aliança ofensiva contra a França.
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