O presidente da França, François Hollande, disse nesta sexta-feira (30/08) que a França está disposta a atuar em uma futura intervenção militar multilateral na Síria mesmo sem a participação do Reino Unido, bloqueada na quinta-feira (29) no Parlamento britânico. O chefe de Estado francês adiantou que a decisão em participar da ofensiva deve ocorrer já na próxima-quarta-feira (4/09). Os Estados Unidos, por sua vez, procuram reforço de outros países para formar uma coalizão.
Em entrevista ao jornal Le Monde, Hollande diz que a negativa do Parlamento britânico a intervir na Síria não muda a postura de seu país, que segundo ele está “preparado” para atuar, mas não tem a intenção de derrubar o governo de Bashar al Assad. “Cada país é soberano para participar ou não de uma operação. Isso vale tanto para o Reino Unido como para a França”, afirmou.
Agência Efe (30/08)
O presidente francês, François Hollande, em reunião no Palácio do Eliseu com Ahmad Yarba, um dos líderes da oposição síria
O chefe do Estado explicou que a intenção de uma intervenção internacional não é “libertar” a Síria ou “derrubar o ditador”, mas sim “colocar um freio em um regime que comete o irreparável contra sua população”. “O massacre químico de Damasco não pode nem deve ficar impune”, acrescentou. A França e demais potências do Ocidente acusam o regime sírio de jogar armas químicas contra sua própria população, o que Damasco nega veementemente. França e EUA afirmam ter quase certeza de que a autoria do ataque foi do governo, e não da oposição armada, mas aguarda um parecer dos inspetores da ONU que estão in loco fazendo averiguações.
Para Hollande, “não fazer nada seria assumir o risco de uma escalada (de violência) que banalizaria o uso de armas químicas e ameaçaria outros países”.
“Se o Conselho de Segurança estiver impedido de atuar, irá se formar uma coalizão. Deverá ser a mais ampla possível. Será apoiada pela Liga Árabe, que condenou o crime e alertou a comunidade internacional. Também contará com o apoio dos europeus, mas há poucos países que têm a capacidade de infringir uma sanção com os meios apropriados. A França é um deles, e está pronta. Ela decidirá sua posição em estreita ligação com seus aliados”, disse o presidente francês.
NULL
NULL
Para isso, precisará dispor de “todos os elementos que justifiquem” uma decisão. Hollande não excluiu, no entanto, que esta resposta chegue antes de quarta-feira, data em que o Parlamento francês vai analisar a situação na Síria em uma sessão extraordinária não submetida a voto. Ele descartou uma intervenção antes da saída da equipe de inspetores da ONU do país árabe, prevista para sábado (31/08).
Para o presidente, já não se trata de estabelecer se no último 21 de agosto foram utilizadas armas químicas nos arredores de Damasco, “porque inclusive as autoridades sírias não negam”, mas conhecer sua autoria, sobre a qual a França diz ter “provas” que apontam para o regime.
Leia mais:
Missão da ONU não tem condição de definir quem fez ataque químico na Síria, diz ex-perito
Parlamento britânico rejeita plano de Cameron para intervir na Síria
Latuff: Rússia e China se unem contra EUA e intervenção militar na Síria
Hollande argumentou que a intervenção no Iraque “foi feita quando não se tinha nenhuma prova sobre a existência de armas de destruição em massa”, enquanto na Síria, “infelizmente, foram utilizadas armas químicas”.
EUA
Os Estados Unidos vão continuar a buscar uma coalizão internacional para agir em conjunto sobre a Síria, disse o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, nesta sexta-feira (30/08), após a decisão do Parlamento do Reino Unido.
“É o objetivo do presidente (Barack) Obama e do nosso governo… qualquer decisão que seja tomada, que seja em colaboração e em esforço internacionais”, disse Hagel durante viagem às Filipinas, acrescentando que os Estados Unidos vão continuar a consultar os britânicos.
“Nossa abordagem é continuar a buscar uma coalizão internacional que atuará em conjunto. E eu acho que vocês estão vendo uma série de países anunciar, anunciar publicamente, sua posição sobre o uso de armas químicas.”
Hagel disse que não iria “especular sobre situações hipotéticas”, quando perguntado se havia alguma coisa que Assad poderia fazer nesta fase final para deter a ameaça de uma ação militar estrangeira. “Eu não fui informado de qualquer alteração na posição do regime Assad sobre qualquer assunto. Então, eu lido com a realidade do que temos”, disse.
Em uma reunião com parlamentares na quinta-feira, autoridades do governo Obama disseram “não ter dúvida” que armas químicas foram usadas na Síria pelo governo do presidente sírio, Bashar al Assad, de acordo com o deputado norte-americano Eliot Engel, que participou da reunião.
(*) com agências de notícias internacionais