Vídeos da celebração em Buenos Aires da recente vitória da Argentina na Copa América, uma foto dos protestos no Egito contra Hosni Mubarak, em 2011, e até uma manifestação em Miami estão circulando esta semana nas redes sociais para propagar farsas sobre a situação de Cuba.
A difusão de informações falsas aumento desde o último domingo (11/07), quando se registraram protestos na ilha contra o desabastecimento e a gestão da covid-19, que deixou, de domingo para esta quarta-feira (14/07), o saldo de uma morte. Nesse contexto, o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, acusou os Estados Unidos de aplicarem “uma política de asfixia econômica”, com o objetivo de provocar “desestabilizações sociais no país”.
De Washington, o presidente Joe Biden assegurou que seu governo acompanha o “povo cubano, seu clamor por liberdade e o alívio do trágico controle da pandemia”, mesmo sem fazer alusão ao impacto do bloqueio econômico que mantêm os EUA contra Cuba há 60 anos, que não suspenderam durante a crise sanitária mundial causada pela covid-19.
Em meio ao confronto entre Havana e Washington, as redes têm sido o lugar onde mais proliferam as falsas notícias sobre a situação cubana.
“Uma operação midiática”
Na terça-feira (13/07), o ministro das Relações de Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, acusou Washington de estar por trás de uma “operação midiática de grande escala” para mobilizar os cubanos, se aproveitando da situação atual do novo coronavírus.
Segundo o chanceler, o Twitter tem sido o teatro de operações dessa campanha, mediante “uso de bots e robôs” para difundir a escalada massiva de hashtags “SOSCuba” e “SOSMatanzas”, pedir uma “intervenção internacional” e mostrar supostas imagens do povo cubano nas ruas contra o governo de Díaz-canel.
Desse campanha, algumas das imagens mais difundidas foi um vídeo gravado no dia em que a seleção argentina ganhou a Copa América e que foi falsamente atribuído aos protestos em Cuba. Um tweet que diz “cubanos querem liberdade” foi publicado seguido com o vídeo de milhares de pessoas reunidas ao redor do Obelisco em Buenos Aires.
Cuba en estos momentos.
Los Cubanos quieren Libertad #Cuba #CubaLibre pic.twitter.com/dFIwrRqQ0c
— LES (@lessuarez) July 12, 2021
No entanto, a polêmica não foi somente com os vídeos difundidos por contas que têm menos de mil seguidores.
A organização Artículo 19, que foi acusada pelo governo mexicano de receber financiamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), também publicou tweets com imagens falsas sobre a situação na ilha.
Adelante/ Fotos Públicas
Governo cubano denunciou uma ‘operação midiática de grande escala’ de Washington contra a ilha
Em três publicações, a organização postou uma fotografia feita no Egito, durante as massivas manifestações contra Hosni Mubarak, como se fossem da ilha caribenha. Após ser descoberta a farsa por usuários da rede social, a Artículo 19 enviou um outro tweet pedindo desculpas porque a “foto usada não correspondia aos eventos condenados em Cuba”, mesmo mantendo suas críticas e convocações contra o governo cubano.
La foto que usaron hoy para hacerla pasar como parte de las protestas en el Malecón de la Habana, en realidad es de hace 10 años en Egipto, donde miles de manifestantes celebraron la dimisión de Mubarak.
Falsarios. Falaces. No dan una.https://t.co/u2A3aCsNVO pic.twitter.com/vUOWjIB2vy— Junia (@Miriam_Junne) July 12, 2021
O erro da organização foi duramente criticado pelo presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, que considerou que a difusão desse tipo de informação falsa é somente “uma amostra” do que foi feito a nível mundial contra a ilha. Da mesma forma, respaldou a tese de que há uma campanha internacional para desprestigiar o governo de Cuba.
“Sem politização, sem campanhas na mídia, que já estão acontecendo em todo o mundo. Há muitos países com problemas na América Latina e no Caribe, não é só o caso de Cuba. Porém, chama a atenção que tenha havido um desdobramento inusitado de notícias, é claro, promovido por aqueles que não concordam com as políticas do governo de Cuba “, disse o mandatário.
⚠️ ARTICLE 19 rechaza el llamado a la confrontación hecha por el presidente de #Cuba ??, @diazcanel, en abierto desacato a los estándares internacionales de los derechos a la manifestación y libre expresión, poniendo en riesgo la integridad de las personas manifestantes.
?
— ARTICLE 19 MX-CA (@article19mex) July 12, 2021
Meios de comunicação como a emissora norte-americana CNN também não ficaram de fora da disseminação de informações falsas. Em suas redes sociais, por exemplo, publicaram a imagem de uma manifestação em Miami acompanhada de uma nota que fazia alusão aos protestos na ilha com o título: “Cubanos saem às ruas em protesto antigovernamental pela falta de liberdade”.
“SW 8 st”
CNN using a photo of a protest in Miami to represent Cuba is peak CNN pic.twitter.com/Eg3gdd5eOv
— ?China Cyber Police (CCP)? (@Truth2Upeople) July 13, 2021
Outro dos boatos mais repetidos foi o uso de imagens do Dia Nacional da Catalunha como se fossem manifestações de massa em Havana. Vídeos de acusações policiais foram usados durante o endosso da independência catalã, em 2017, para garantir que fazia parte da repressão contra os protestos na nação caribenha.
A lista de notícias falsas também aumentou com a informação de que o ex-presidente cubano Raúl Castro havia fugido para a Venezuela em um avião privado e secreto, com tweets que vinham acompanhados da imagem do líder político em uma cúpula realizada em 2017.