O embaixador dos EUA na União Europeia, Gordon Sondland, que até então parecia o álibi mais forte do presidente norte-americano Donald Trump no inquérito de impeachment contra o republicano, mudou seu depoimento à Câmara dos Representantes e afirmou que Washington “provavelmente” congelaria uma ajuda militar à Ucrânia se o mandatário ucraniano Vladymyr Zelensky não anunciasse publicamente uma investigação contra o democrata Joe Biden.
A retificação foi feita na última segunda-feira (04/11) e divulgada nesta terça (05/11). No novo depoimento, Sondland, que negava qualquer troca de favores, diz ter “refrescado sua memória sobre certas conversas ocorridas no início de setembro de 2019”.
O embaixador admite ter dito a várias pessoas, incluindo um funcionário ucraniano, que o governo Trump subordinava uma ajuda militar de quase US$ 400 milhões à abertura de um inquérito na Ucrânia contra Biden e seu filho, Hunter.
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Em outubro passado, o embaixador dos EUA em Kiev, Bill Taylor, já havia testemunhado que o aporte estava diretamente ligado à investigação contra Biden, pré-candidato democrata à Casa Branca.
Hunter era conselheiro de uma empresa ucraniana de gás, a Burisma, investigada pelo então procurador-geral Viktor Shokin, demitido em 2016 por pressões dos EUA e da União Europeia, que o acusavam de corrupção.
Na visão de Trump, a Ucrânia agiu para beneficiar os democratas nas eleições de 2016, embora Biden não fosse candidato e não houvesse indícios de irregularidades envolvendo Hunter, a não ser um potencial conflito de interesses por causa do cargo exercido por seu pai na época.
Em um telefonema no fim de julho, Trump pediu para Zelensky investigar os Biden. Segundo Taylor, Sondland lhe relatou que o norte-americano queria que o presidente ucraniano “declarasse publicamente que investigaria a Burisma e a suposta interferência na eleição de 2016”.
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Gordon Sondland mudou seu depoimento à Câmara dos Representantes
Implicações
A retificação de Sondland confirma que ucranianos sabiam que a liberação da ajuda militar estava condicionada ao inquérito contra os Biden. Ou seja, confirma que houve uma tentativa de “barganha” por parte dos EUA.
“Agora me lembro de ter falado individualmente com o senhor Yermak [assessor de Zelensky], quando eu disse que a retomada da ajuda dos EUA provavelmente não aconteceria até que a Ucrânia fizesse a declaração pública anticorrupção que discutimos por várias semanas”, relatou Sondland.
Segundo o embaixador, o depoimento de Taylor, em 22 de outubro, o ajudou a “refrescar” a memória. “Também me lembro de algumas questões sobre se a declaração pública poderia vir do recém-nomeado procurador-geral, ao invés do presidente Zelensky. Logo depois, entendi que, de fato, a declaração pública teria de vir diretamente do presidente Zelensky”, acrescentou.
Trump sempre negou a existência de uma troca de favores com a Ucrânia, e a Casa Branca divulgou um novo comunicado chamando o inquérito de impeachment de “farsa ilegítima”. “O presidente não fez nada de errado”, afirma a nota. Mas outro depoimento divulgado nesta terça pode complicar o presidente dos EUA. Kurt Volker, enviado especial dos EUA a Kiev, admitiu que Rudy Giuliani, advogado pessoal de Trump, fez pressões para o governo da Ucrânia dizer explicitamente que investigaria Biden.
O inquérito de impeachment tramita na Câmara, de maioria democrata, e deve ser concluído até dezembro, mas o julgamento é feito no Senado, controlado pelo Partido Republicano.