O episódio de violência provocado pelo ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson neste domingo (23/10), ao resistir à prisão e atacar policiais federais com granadas e tiros de fuzil, teve grande repercussão na imprensa internacional.
A mídia europeia chamou a atenção para o aumento das tensões no Brasil na reta final da campanha eleitoral mais polarizada desde o retorno da democracia no país, nos anos 1980.
Em comum, os artigos tratam da insistência do presidente Jair Bolsonaro em tentar, sem sucesso, descolar sua imagem de seu aliado, que já se referiu ao mandatário como seu “amigo pessoal”, e alertam para o aumento da violência nos dias que antecedem a votação.
“Eleição tóxica”
O jornal britânico The Guardian afirmou que a “eleição presidencial tóxica do Brasil ganhou contornos surreais e violentos”, após um “aliado radical” de Bolsonaro resistir à prisão com a utilização de granadas e fuzil.
O presidente, segundo a publicação, “tentou se distanciar de seu aliado, alegando falsamente que não havia fotografias” que comprovassem a ligação entre ambos, e lembrou que Jefferson já se referiu a Bolsonaro como seu “amigo pessoal”.
A “retórica radical” de Bolsonaro, que inclui tratar a campanha como uma batalha entre o bem e o mal, teria gerado “uma sucessão de ataques violentos e assassinatos”.
O Guardian afirma que a equipe de segurança do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, que já era grande, será aumentada “em razão de temores de que ele se torne um alvo nos últimos dias de campanha”.
O jornal afirma que, para os brasileiros, “a campanha eleitoral deste ano é a mais importante e mais tempestuosa desde o retorno da democracia ao pais nos anos 1980”.
“Insultos grosseiros” a Cármen Lúcia
Na Alemanha, o portal de internet da revista Der Spiegel lembrou que Jefferson foi alvo da ação da Polícia Federal por ter violado as condições de sua prisão domiciliar e ofender a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF). A publicação afirma que o petebista “insultou de maneira grosseira a juíza nas redes sociais”.
O portal de internet da emissora Deutschlandfunk também relatou o ocorrido na cidade de Levy Gasparian, no Rio de Janeiro, destacando que o ex-deputado e presidente do PTB cumpria prisão domiciliar por “múltiplas violações da lei contra a desinformação e retóricas antidemocráticas”.
Ricardo Moraes/REUTERS
Roberto Jefferson enfrentou os agentes da Polícia Federal com granadas e fuzil
Amigos de longa data
O francês Le Monde frisou que esse episódio de violência “diz muito sobre o estado de tensão que agita o Brasil, uma semana antes do segundo turno”, e destacou a insistência de Bolsonaro em renegar a ligação com Jefferson.
“O líder também negou ter aparecido em fotografias ao lado do ex-deputado, mas múltiplos veículos de comunicação divulgaram imagens dos dois juntos, de quando o ex-capitão do Exército chegou ao poder, em 2019”, destacou o periódico.
Também na França, o diário Le Figaro relatou que Bolsonaro condenou a “ação armada” de Jefferson, mas também criticou as investigações judiciais contra o ex-deputado que, em sua opinião, seriam realizadas “sem nenhum amparo constitucional”.
O Figaro mencionou as declarações de Lula sobre o ocorrido, segundo as quais teria sido criada na sociedade brasileira uma “máquina de destruir valores democráticos”, e relatou que o ex-presidente, expressou solidariedade para com os policiais feridos, assim como Bolsonaro.
“Final de infartar”
Na Espanha, El País destacou que o “grave incidente […] acontece a sete dias de eleições presidenciais que transcorrem em clima de enorme tensão e de acusações grosseiras” entre os dois candidatos. “Espera-se um final de infartar, porque as pesquisas os colocam em empate técnico.”
O jornal afirma que o episódio “causou uma onda de preocupação na reta final da campanha mais polarizada das últimas décadas”. “Como o presidente Bolsonaro realizou uma campanha contra o sistema de votação, questionando sua segurança, há temores de que ele não aceite uma possível derrota.”
El País afirma que Bolsonaro poderá insuflar seus seguidores a se mobilizarem contra o resultado, como fez Donald Trump nos Estados Unidos, depois de perder as eleições para o democrata Joe Biden.
“A reação violenta do político [Jefferson] contra a decisão do juiz [Alexandre de] Moraes coincide com seu enorme protagonismo, uma vez que ele também é o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, organismo que, nas últimas semanas, adotou múltiplas decisões para tentar frear as notícias falsas que circulam nas redes sociais”, conclui o diário espanhol.