“Não precisa de números para perceber que o país está numa recessão se você vai ao um centro comercial e vê 25% das lojas fechadas”. É o que afirma o economista e sociólogo Ernesto Rezk, da Universidade Nacional de Córdoba, ao ver os relatórios sobre a produção da Argentina no último semestre, indicando a maior queda desde 2002.
A produção industrial teve uma redução de 10,7% nos primeiros seis meses de 2009, em comparação com o mesmo período do ano passado. Em junho, a queda foi de 2,7%, com relação à maio. Os dados são de um estudo feito pelo instituto privado Fiel (Fundação de Investigações Econômicas Latino-Americanas) e divulgado hoje (30). “É uma grande diminuição no ritmo, visto que a indústria do país estava em crescimento desde 2003, e aumentou (a produção) cerca de 50% até 2008”, avalia Rezk.
Os setores mais afetados foram o automotivo e a siderurgia que caíram mais de 30%. Apesar de os dados se referirem ao primeiro semestre de 2009, a queda seria resultado de um recuo que teve início no ano passado, como conseqüência da crise econômica mundial e de problemas internos, como a falta de investimentos e desentendimentos entre o governo e setores ligados à produção, como industriais e agricultores.
A AEA (Associação de Empresários Argentinos) e a UIA (União Industrial Argentina) vêm pedindo, desde o início do ano, que o governo tome medidas mais eficientes para evitar a queda na produção. Os produtores rurais também fizeram vários protestos para pedir uma nova política agropecuária, além de medidas para amenizar os efeitos da pior seca registrada no país em décadas.
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Efeito dominó
A desaceleração no ritmo da produção industrial tem reações em cadeia, e a mais imediata prejudica os trabalhadores, por conta da diminuição do emprego formal, como explica Rezk, um dos principais analistas do mercado de trabalho do país. “A redução de produção, de produtos no mercado e de lucro provoca demissões, e as pessoas acabam trabalhando na informalidade, sem seguro e com piores salários”. Ele lembra também o medo que há entre os argentinos de atingir novamente o índice de 22,5% da população desempregada, como aconteceu em 2003 – hoje o índice está em 8,4%, no primeiro trimestre de 2009, segundo o Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos).
Rezk avalia que os resultados seguintes à queda na produção são a continuidade da diminuição da circulação de capital, redução ainda maior da demanda interna e das atividades comerciais. Ele conta que, por causa disso, muitas lojas já fecharam as portas. “Um estabelecimento não conseguir pagar o aluguel e o salário dos funcionários não é normal. Não víamos tantos lugares fechando no ano passado”.
Apenas um setor da economia, o de bebidas e alimentos, manteve o ritmo de produção, com crescimento de 2,9% em relação aos primeiros semestre de 2008. O instituto Fiel explica que o número é impulsionado majoritariamente pelo consumo interno de alimentos.
Mesma economia, diferentes medidas
Embora se refiram à aferição da mesma atividade, os institutos privados e o oficial, o Indec, revelam números diferentes. O índice elaborado pelo estúdio OJF (Orlando J. Ferreres & Asociados) calculou uma diminuição de 9,2% na produção industrial no primeiro semestre. O Indec, cujo resultado é o mais contrastante, aponta queda de 1,4%, apesar de reconhecer uma “recessão”. O Fiel mostra redução de 10,7%. E a UIA ainda não divulgou seus indicadores.
O Indec passa por mudanças estruturais, por conta das fortes críticas em relação aos seus serviços. O instituto é acusado de manipulação de estatísticas oficiais, como índice de inflação, preço de produtos e alteração na data de censos.
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