O Brasil acredita que o Irã pode usar a grande influência que tem no Oriente Médio para fazer os grupos Hamas e Hezbolá aceitar um acordo de paz com Israel. A afirmação foi feita pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em entrevista exclusiva ao Blog do Planalto, concedida hoje (19) em Amã, na Jordânia.
Segundo Amorim, o Irã tem força suficiente para atuar de forma positiva no cenário da região e levar seus aliados – grupos fundamentalistas nos territórios palestinos e no Líbano – a sentar para negociar com os adversários israelenses. Atualmente, não existe diálogo entre os dois movimentos e Israel – cuja existência nem reconhecem.
“Acho que entrar no diálogo já significa modificar certos comportamentos. É isso que esperamos que possa ocorrer: ao serem chamados para um diálogo, esses grupos também mudem seu comportamento. Se não houver essa mudança, as soluções ficam bem mais problemáticas”, disse o ministro ao blog, editado pela secretaria de comunicação da Presidência.
Sobre a polêmica nuclear, Amorim reiterou a posição brasileira de que o Irã tem direito a desenvolver a tecnologia, desde que dê “garantias firmes” às entidades multilaterais de fiscalização que ela será usada exclusivamente para fins pacíficos.
“Chegar a um acordo é difícil, mas não impossível. O Brasil está empenhado para encontrar a saída”, disse Amorim. Segundo o ministro, negociar é “melhor do que ficar trabalhando sobre hipóteses que muitas vezes não se confirmam, como foi no caso do Iraque – e descobrir isso depois que 200 mil pessoas morreram” sem ter sido encontradas “armas de destruição em massa”, como alegava o governo dos Estados Unidos para justificar a invasão, em 2003.
A atual república islâmica – antiga Pérsia – tem uma posição milenar de potência regional, desde a Antigüidade, e nos últimos anos vem investindo ostensivamente em defesa. Ironicamente, a projeção iraniana no Oriente Médio aumentou depois que seu principal rival, o regime secularista e anti-xiita de Saddam Hussein no Iraque, foi derrubado pelos EUA – inimigo em comum de ambos.
De acordo com Celso Amorim, o Brasil pode contribuir de fato na diplomacia do Oriente Médio porque “inspira confiança”.
“O que o Brasil diz é bem recebido. As pessoas falam com o Brasil com uma franqueza, que dificilmente acontece com outros interlocutores. A confiança é a mercadoria mais importante numa negociação de paz, e o Brasil tem esse trunfo”, acredita.
Segundo o chanceler brasileiro, em sua visita à região esta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comprovou essa franqueza ao tocar em temas incômodos e considerados “tabu” em cada um dos lados, sem tentar “agradar”.
“Em Israel, ele criticou os assentamentos [em Jerusalém Oriental] e, na Palestina, falou que é preciso respeitar os direitos de Israel”, lembrou.
Financiamento
O Irã é um dos poucos países que fornece ajuda financeira ao Hamas, inclusive durante o embargo internacional imposto ao governo palestino após a vitória do grupo islâmico nas urnas, em janeiro de 2006. Na época, tentando conquistar reconhecimento internacional, o Hamas aceitou formar um governo de unidade nacional com o grupo rival, Fatah.
A iniciativa não funcionou e, após meses, as tensas relações entre os dois grupos explodiram em junho de 2007, quando – após confrontos armados entre as duas facções – o Hamas expulsou militantes do Fatah da Faixa de Gaza, assumindo o controle da região. Abbas destituiu o grupo e criou um gabinete de emergência na Cisjordânia.
Na época, o Irã criticou a formação do novo governo emergencial palestino e culpou os EUA e seus parceiros internacionais pela crise entre o Hamas e o Fatah. Após o racha entre as facções palestinas, a comunidade internacional levantou o embargo.
Cooperação Brasil-Irã
Esta semana, o embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, disse que a visita de Lula ao país islâmico em maio está confirmada, em retribuição à visita de Mahmud Ahmadinejad ao Brasil, no final de novembro. Segundo a agência de notícias iraniana Irna, Lula será o primeiro presidente brasileiro fazer uma viagem oficial ao país e deve ir a Teerã nos dias 15 e 16 de maio.
Para o diplomata, no ano passado, “setores sionistas” tentaram “sabotar” a viagem do presidente iraniano em cada um dos países latino-americanos onde ele esteve, mas “fracassaram”.
“E a visita de Lula ao Irã será uma dupla derrota para eles”, disse Shaterzadeh, citado pela Irna.
De acordo com o embaixador, embora muito se especule sobre a importância política da troca de visitas, o principal objetivo de ambas é a cooperação bilateral, principalmente nas áreas econômica e técnico-científica – o que inclui o setor nuclear.
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