Com quase 90% dos votos apurados nesta quarta-feira (24/03), a quarta eleição em dois anos em Israel parece caminhar para o mesmo cenário de incerteza visto nas três disputas anteriores: apesar de liderar, o partido ultraconservador Likud, do premiê Benjamin Netanyahu, e seu bloco de direita não terão a maioria absoluta no Parlamento.
Cerca de 6,5 milhões de cidadãos foram convocados a votar, apenas 67% compareceu às urnas, cerca de 4% a menos em comparação ao último processo. A contagem dos votos deve durar até sexta-feira (26/03), quando serão divulgados os resultados oficiais.
Até o momento, a sigla obteve 30 assentos, contra os 36 da última disputa. Contando com os votos computados dos aliados Shas, com nove, United Torah Judaism (Judaísmo Unido da Torá), com sete, e o Religious Zionism (Sionismo Religioso), com seis, a soma chega a 52, longe dos 61 necessários para ter uma maioria no Knesset, Parlamento israelense.
Uma possível aliança com o partido Yamina (Para a Direita), liderado por Naftali Bennett, que angariou sete cadeiras, ou com o New Hope (Nova Esperança), de Gideon Sa'ar, com seus seis assentos, pode levar o bloco governista para 59, o que ainda não é possível para maioria necessária.
Segundo o jornal Haaretz, no entanto, as esperanças de formar um governo de maioria e evitar a quinta disputa eleitoral está na United Arab List (Lista Árabe Unida), a UAL, que reúne os maiores partidos árabes. Seriam seis assentos a mais.
Por sua vez, Mansour Abbas, líder da UAL, afirmou que seus correligionários “não estão obrigados com nenhum bloco ou candidato”.
O centrista Yesh Atid (Há Futuro), do líder Yair Lapid, foi o segundo mais votado até agora com 17 cadeiras e continuará a ser o maior opositor de Netanyahu. O Labor (Partido Trabalhista), com sete assentos, e o Meretez, com cinco, já declararam que apoiam o bloco opositor ao Bibi, como é conhecido o premiê.
O Azul e Branco, que tinha conseguido um resultado expressivo nas eleições anteriores e chegou a formar um governo de coalizão com o Likud, despencou na preferência dos eleitores e obteve apenas oito assentos, foram 33 anteriormente.
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Até o momento, Likud, partido de Bibi, obteve 30 assentos no Parlamento de Israel
No entanto, apesar de não ter uma vitória clara, Netanyahu fez um pronunciamento já nesta quarta-feira dizendo que as urnas “deram uma vitória gigantesca para a direita e para o Likud”. “Está claro que a grande maioria dos cidadãos de Israel é de direita e quer um governo de direita. E isso nós vamos fazer”, acrescentou.
Um fator que surpreendeu muitos analistas foi o fato da vacinação contra a covid-19, que está em níveis muito avançados no país, não ter pesado na disputa. O cenário com ou sem coronavírus ficou “intocado” e os israelenses foram votar apenas com foco nas questões políticas.
Netanyahu está na função de chefe de governo desde 2009, mas, nos últimos anos, uma série de escândalos foi minando a confiança da população em seu líder. O premiê está sendo julgado por três crimes: fraude, corrupção e abuso de poder em três denúncias diferentes, que fora unificadas em um único processo.
Histórico
Israel vive um impasse político desde os últimos pleitos (abril e setembro de 2019 e março de 2020), já que nem Netanyahu, nem seu opositor e ex-ministro de Defesa, Benny Gantz, da coalizão Azul e Branco, tiveram apoio suficiente para formar maioria no Parlamento israelense.
Para dar fim à crise, ambos chegaram a um acordo de governo conjunto, no qual Netanyahu governaria até outubro de 2021 e depois seria substituído por Gantz. Porém, em dezembro do ano passado, os líderes do Likud e do Azul e Branco não chegaram a um acordo sobre o orçamento, o que levou à dissolução do Parlamento e à convocação de novas eleições.
(*) Com Ansa e Brasil de Fato.