Os israelenses assistem a uma verdadeira fratura desde a chegada da extrema direita ao poder com coalizão dirigida por Benjamin Netanyahu, aponta a revista L’Obs. A publicação traz uma longa reportagem na qual conta como dois mundos se opõem no país, com protestos cada vez mais frequentes: de um lado os democratas e liberais e, ou outro, os ultraconservadores.
O ponto central das tensões é o projeto de reforma da Suprema Corte, que facilitaria a adoção de leis no país, sem nenhum tipo de contestação. A instituição, explica a reportagem, funciona como única instância capaz de contestar o governo, garantindo os valores israelenses. Foi a Suprema Corte, por exemplo, que vetou a entrada em vigor em 2013 de um texto que previa a detenção de forma indiscriminada de migrantes e exilados.
Diante do risco dessa reforma entrar em vigor, vários setores da sociedade têm se revoltado, aponta a publicação. Algumas empresas já ameaçam deixar o país, mostrando que as medidas da extrema direita podem ter um impacto também na economia israelense.
Além disso, avalia o editorial da L’Obs, o governo tem acelerado uma anexação forçada de parte da Cisjordânia, “atiçando o fogo do conflito israelo-palestino e dividindo a população como raramente aconteceu no país”. Para o editorialista da revista, “a imposição de um programa que desrespeita o caráter democrático do Estado hebreu conduz Israel a uma crise”, que além de dar as costas para metade do país, não poderá ser ignorada por muito tempo pela comunidade internacional.
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Ponto central das tensões é projeto de reforma da Suprema Corte, que facilitaria adoção de leis no país, sem nenhum tipo de contestação
O assunto também foi destaque da revista Le Point que afirma, também em editorial, que “o governo de Netanyahu está jogando lenha na fogueira”. Para a publicação, que retraça o recrudescimento da violência na Cisjordânia desde o ano passado, “o risco de uma terceira intifada nunca esteve tão próximo”.
Ameaça iraniana
“Esse contexto suscita questões preocupantes sobre o futuro da democracia israelense e o respeito que ela tem pelos direitos das minorias”, lança Le Point, lembrando que, em meio a todas essas tensões, Israel deveria se preocupar mais com o risco de uma possível bomba atômica fabricada pelo Irã. Principalmente após os Estados Unidos anunciarem que, segundo suas informações, Teerã estaria avançando a passos largos rumo a construção de uma arma nuclear.
Em um texto intitulado “a outra guerra se prepara”, o editorial afirma que “essa notícia é alarmante para Israel, que tem consciência de ser o alvo do regime de Teerã, e que ameaçou reagir para impedir que isso aconteça”. No entanto, esse contexto também tem um impacto além das fronteiras regionais e “é preocupante para a Europa, pois um segundo conflito militar nos seus arredores, além da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, faria explodir os preços da energia e provocaria danos consideráveis para a economia”, conclui o editorial alarmante da revista Le Point.