Terça-feira, 15 de julho de 2025
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A tensão cresce em Israel nesta segunda-feira (27/03) diante das consequências de uma polêmica reforma judiciária proposta pelo governo do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. O ministro da Defesa foi demitido por criticar o projeto e o maior sindicato de Israel ameaça convocar uma greve geral.

Os manifestantes retomaram as ruas de Israel após o anúncio da saída do ministro Yoav Gallant.

“As mudanças que o governo quer são drásticas e podem mudar a cara do país. Precisamos protestar, nos mobilizar, fazer barulho, senão essa reforma será adotada. Somos a última muralha antes da ditadura”, disse Tom à reportagem da RFI em Jerusalém. 

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“Essa reforma enfraquece a Justiça e reforça o poder político; é uma ameaça para a democracia e para o Estado de direito, mas também para as minorias”, explica outro manifestante. 

Com bandeiras nas cores de Israel, azul e branca, os participantes repetiam palavras de ordem como “Fora, Bibi!”, apelido de Netanyahu.

Outros protestos espontâneos foram realizados em frente à residência do premiê, em Jerusalém, assim como em outras cidades do país, como Haifa (norte) e Beer Sheva (sul), segundo a imprensa local.

Netanyahu cancelou na última hora um pronunciamento que faria pela manhã. O presidente israelense, Isaac Herzog, também engrossou a lista dos descontentes, ao pedir nesta segunda-feira a suspensão imediata da reforma.

“Pelo bem da unidade do povo de Israel, pelo bem da responsabilidade necessária, peço a vocês que interrompam o processo legislativo imediatamente”, disse Herzog em um comunicado.

O plano de dar mais controle aos políticos e diminuir o papel da Suprema Corte provoca protestos há meses e foi questionado pelos principais aliados de Israel, incluindo os Estados Unidos, que expressaram preocupação no domingo (26/03).

O governo de extrema direita de Netanyahu argumenta que as mudanças são necessárias para reequilibrar os poderes entre os legisladores e o Judiciário.

Greves

O principal líder sindical de Israel convocou uma paralisação nesta segunda em discurso pela televisão. “Estou convocando uma greve geral”, disse o presidente da Histadrut, Arnon Bar-David, em um discurso televisionado. “A partir do momento em que esta coletiva de imprensa termina, o Estado de Israel para. 

“Temos a missão de travar este processo legislativo e vamos fazê-lo”, afirmou, prometendo “continuar a lutar”.

 A Associação Médica de Israel rapidamente seguiu o exemplo, anunciando “uma greve total no sistema de saúde” que afetará todos os hospitais públicos.

Consequências da reforma judiciária seguem, e manifestantes foram às ruas após a saída de Yoav Gallant; maior sindicato de Israel ameaça convocar greve geral

Wikimedia Commons

Reforma judiciária de Netanyahu é alvo de manifestações desde janeiro em Israel

Netanyahu destituiu o ministro da Defesa após ele pedir, no sábado (25/03), uma pausa de um mês no controverso processo de reforma judicial, impulsionado pelo governo.

“O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, decidiu destituir o ministro da Defesa, Yoav Galant”, informou o gabinete do premiê em um comunicado de apenas uma frase.

Em um discurso na noite de sábado, quando 200 mil pessoas foram às ruas de Tel Aviv protestar contra a reforma, Gallant disse que “devemos deter o processo legislativo” durante um mês, devido à polarização que provocou. Ele pertence ao mesmo partido do premiê, o conservador Likud, e até então era um aliado importante de Netanyahu.

Descontentamento geral

Milhares de reservistas das Forças Armadas alertarem que não seriam mais voluntários caso a reforma fosse adiante. Isso levaria à redução de certas operações, o que motivou Gallant a fazer o apelo público e avisar que a segurança nacional de Israel estaria ameaçada.

Desde que o governo Netanyahu, um dos mais à direita da história de Israel, apresentou, em janeiro, um projeto de reforma legal da magistratura, o país está dividido e há manifestações contrárias à medida a cada semana.

Críticos da reforma alertam que ela põe em risco o caráter democrático do Estado de Israel.

Netanyahu e seus aliados ultra ortodoxos da extrema direita a defendem, alegando a necessidade de equilibrar as forças entre os políticos eleitos e a Suprema Corte, que consideram politizada.  

Repúdio

Horas depois do anúncio da demissão de Gallant, o cônsul-geral de Israel em Nova York publicou no Twitter sua carta de renúncia.

“A situação política em Israel atingiu um ponto crítico e sinto uma responsabilidade profunda e obrigação moral de defender o que é justo”, tuitou o cônsul Asaf Zamir, que qualificou a demissão de Gallant como uma “decisão perigosa”, que “me convenceu de que não podia continuar representando este governo”.

“Netanyahu pode demitir Gallant, mas não pode demitir a realidade e não pode demitir o povo de Israel, que se opõe à loucura da coalizão”, tuitou mais cedo o líder da oposição, o ex-primeiro-ministro Yair Lapid, que na véspera havia elogiado a “coragem” do ministro destituído.

“O primeiro-ministro de Israel é uma ameaça para a segurança de Israel”, escreveu Lapid.

(*) Com informações do correspondente da RFI em Jerusalém, Sami Boukhelifah, e AFP.