O navio humanitário espanhol Open Arms, com 147 migrantes a bordo, pôde finalmente nesta quarta-feira (14/08) se aproximar da ilha italiana de Lampedusa. A manobra, que visa colocar a embarcação fora de perigo, foi autorizada depois que a justiça italiana suspendeu o decreto do ministro do Interior e líder da extrema direita, Matteo Salvini, interditando as águas territoriais do país.
A ONG Proactiva Open Arms, que controla o navio, garantiu, no entanto, que não quer aportar à força em Lampedusa, como fez o Sea-Watch3 no final de junho. A tripulação diz que por enquanto quer apenas se proteger do mau tempo. A ONG espera agora que um porto seja designado para o desembarque.
O Open Arms, que estava em alto mar no mediterrâneo, divulgou nesta quarta-feira na internet vídeos mostrando ondas de até 2,5 metros de altura que colocavam em risco o navio e seus 147 passageiros. Outro barco humanitário, o SOS Mediterrâneo, que opera em conjunto com a ONG Médicos Sem Fronteiras e também busca um porto para desembarcar 350 migrantes, postou vídeos semelhantes.
Reação de Salvini
Apesar dos riscos e do mau tempo, Salvini reagiu imediatamente para barrar a decisão da justiça. Ele entrou com um recurso e assinou um novo decreto contra o Open Arms, que desde o início demonstrou o “objetivo político de levar migrantes para a Itália”.
Nos últimos 12 dias, a ONG realizou três operações no Mediterrâneo e resgatou 147 migrantes, entre eles 30 menores. Malta aceitou receber apenas uma parte dos refugiados, mas o Open Arms não aceitou a oferta, com medo da reação dos migrantes que ficariam a bordo.
Em entrevista na manhã desta quarta-feira, o fundador da ONG Oscar Camps declarou que a situação é tensa e que os 19 tripulantes temem cenas de violência entre os migrantes “cansados e estressados”. A promiscuidade é grande. Há apenas dois banheiros e 180 m2 de área coberta.
Paris busca solução
A presidência francesa garante que a “França age conjuntamente com a Comissão europeia” na busca de uma solução para os cerca de 500 migrantes que estão à deriva no Mediterrâneo, a bordo dos dois navios humanitários. Paris lembra os dois princípios que defende: desembarque no porto mais próximo e repartição dos migrantes entre os países da União Europeia.
Salvini reclama um rodízio nos locais de chegada dos refugiados resgatados no mar. Como já havia feito com outros navios, ele assinou no início de agosto um decreto interditando as águas territoriais italianas ao Open Arms. Se desobedecesse, a ONG espanhola podia ser multada em até € 1 milhão e ter o navio confiscado.
A imprensa italiana informa que o tribunal administrativo de Latium, na região de Roma, suspendeu o decreto por considerar que houve “excesso de poder” e violação do direito internacional sobre socorros em alto mar.
No contexto da crise política italiana, a questão migratória é explosiva. Líder do partido Liga, Salvini desfez a aliança governamental com o Movimento 5 Estrelas (M5S) e tenta impor eleições antecipadas no país. Ele denunciou uma “tentativa de forçar a reabertura de seus portos e transformar a Itália no campo de refugiados da Europa”. Já o Partido Democrático, de centro esquerda, que busca uma aliança inédita com o M5S para impedir as eleições antecipadas, pediu ao primeiro-ministro Giuseppe Conte a autorização para o desembarque imediato dos passageiros do Open Arms.
Reprodução/OpenArms
ONG Open Arms, que estava em alto mar, divulgou vídeos mostrando ondas de até 2,5 metros que colocavam em risco os 147 passageiros.