Dois funcionários do Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas podem se tornar réus na Itália pela missão que terminou com a morte do embaixador italiano no Congo, Luca Attanasio, do policial Vittorio Iacovacci e do motorista Mustapha Milambo em fevereiro do ano passado.
Segundo informações da Procuradoria de Roma nesta quarta-feira (09/02), Rocco Leone e Mansour Luguru Rwagaza foram os organizadores da missão no norte do país africano e podem responder pelo crime de homicídio culposo (quando não há a intenção de matar).
“Eles omitiram por negligência, imprudência e imperícia, com base na reconstituição efetuada pelo Estado, que está em linha com os resultados da investigação interna da ONU, toda a cautela idônea para proteger a integridade física dos participantes da missão da PMA que percorria a estrada RN2 na qual, nos últimos anos, tinham ocorrido ao menos 20 conflitos armados entre grupos criminosos e o exército regular”, diz a nota da Procuradoria.
Além disso, ambos teriam “prestado um testemunho falso, com o fim de obter uma permissão dos escritórios locais do Departamento de Segurança da ONU, indicando no pedido de autorização da missão, no lugar dos nomes do embaixador Attanasio e do carabineiro Iacovacci, os nomes dos dois funcionários do PMA, buscando assim induzir ao erro dos escritórios sobre a real composição do comboio”.
Ainda conforme o documento romano, eles não haviam feito o pedido de autorização, “como o determinado pelos protocolos da ONU, ao menos 72 horas antes” da missão.
Para os procuradores italianos, com a omissão das informações, o grupo não recebeu orientações “específicas em matéria de segurança, informando aos membros da missão os riscos possíveis e fornecendo as indicações sobre as precauções a serem adotadas (como uma escolta armada e veículos blindados)”.
Conforme a investigação de Roma, essas omissões deliberadas incluíram ainda o detalhamento do percurso, que tinha partes “verdes, ou seja, de baixo risco, mas também partes classificadas como amarelas, com risco médio, que imporia o uso, ou ter rapidamente disponível, capacetes e coletes à prova de balas”.
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Segundo Procuradoria de Roma, organizadores da missão agiram com negligência, imprudência e imperícia
O documento ainda diz que Leone e Rwagaza omitiram “a presença de um embaixador que, representando um país, constitui um sujeito particularmente em risco, e depois de ter dado garantias ao policial Iacovacci, após pedidos dele, de que iriam usar veículos blindados, garantiram que as medidas de segurança haviam sido incrementadas”.
Dados vindos das investigações do Congo mostram que um grupo armado que atua na região soube que o comboio contaria com o embaixador italiano e queria fazer uma emboscada para sequestrar Attanasio e Iacovacci para pedir um resgate milionário.
No ataque do dia 22 de fevereiro de 2021, seis homens armados obrigaram a comitiva a parar pouco após o grupo deixar a cidade de Goma, no leste do país, no meio de uma estrada que cortava o Parque Nacional Virunga, um santuário nacional do Congo e palco da atuação de diversas milícias com os mais diversos escopos.
Para parar o comboio, porém, eles colocaram obstáculos na estrada e deram tiros para o ar e os disparos chamaram atenção dos soldados das Forças Armadas e dos guardas florestais, que estavam a menos de um quilômetro da ação.
Com a chegada dos militares, os criminosos mataram Milambo e tentaram retirar os dois italianos, mas com o tiroteio, ambos acabaram mortos.
Os procuradores romanos confirmam que definem o crime como sequestro de pessoa com objetivo terrorista e que “foram finalizadas as buscas para identificar os componentes do grupo armado, também através das ações feitas pelas autoridades da República Democrática do Congo”.
No dia 18 de janeiro deste ano, o governo anunciou a prisão de seis pessoas que teriam atuado no ataque e que pertencem a um grupo chamado Balume Bakalu. Mas, até hoje, há dúvidas se os acusados são realmente os culpados ou se há outros suspeitos.
Após o anúncio do MP de Roma, o pai do embaixador, Salvatore Attanasio, falou com a ANSA e disse que foi dado o “primeiro passo” para saber a verdade do ataque.
“Eu teria ficado surpreso se tivesse ocorrido ao contrário. Desejamos que esse seja o primeiro passo para a verdade porque sem a verdade, não há justiça”, afirmou.