Atualizada às 17h35
O Ministério das Relações Exteriores retirou do ar na noite desta terça-feira (14/07) apostilas utilizadas para ensinar português a estrangeiros que continham frase racistas e ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Produzido pela empresa privada Schola, o material era veiculado desde 2013 pela Rede Brasil Cultural, um programa do Itamaraty que funciona em 44 países ensinando língua portuguesa e promovendo eventos culturais.
“Se eu soubesse que o Lula seria tão corrupto e se envolveria com o mensalão, eu não teria votado nele”, diz um dos exercícios para conjugação de verbo.
Em outro caso, faz uma menção explícita ao MST, ao pedir a conjugação dos verbos “apropriar” e “conseguir”: “Se o MST se (…) de nossas terras, nunca mais (…) reavê-las”.
Há ainda afirmações racistas como “se ela alisasse o cabelo, ela ficaria mais bonita”, e machistas como “se as mulheres não abortassem, não haveria tantas clínicas de aborto clandestinas”.
Um dos exercícios ainda cita o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, afirmando que “além de cassado, foi condenado no caso do mensalão”. O material, que pertencia a série de livros Só Verbos desenvolvida pela Schola, foi removido da página oficial da Rede Brasil Cultural.
Procurado pela reportagem, o Itamaraty disse que “não oferece nenhum conteúdo específico à sua rede de 24 Centros Culturais Brasileiros e 4 Núcleos de Ensino de Português no exterior” e que os professores têm “autonomia para escolher seus recursos didáticos”.
“O conteúdo do material didático em apreço, comercializado por empresa privada, foi submetido ao repositório de material didático da Rede Brasil Cultural em 2013, ou seja, há sete anos. Por não se coadunar com as diretrizes estabelecidas pelos referidos guias curriculares, o conteúdo foi retirado da página eletrônica da 'Rede Brasil Cultural',” afirmou a chancelaria.
'Não tem ideologia'
Em entrevista a Opera Mundi, a professora Airamaia Chapina, fundadora da Schola e profissional que assina os materiais, disse que os exemplos foram “tirados de contexto” e que está “triste” ao ver seu nome “associado ao governo Bolsonaro”.
A professora ainda se justificou sobre as frases que falam do ex-presidente Lula e do MST, dizendo que “eram assuntos que estavam todos os dias nos jornais, e coisas do cotidiano e notícias é o que levo para a sala de aula, para não ter uma aula chata”.
“Eu desenvolvi esse material para uso em minhas aulas particulares, porque existia carência de bons materiais e os que haviam eram muitos caros. Quando o Itamaraty me procurou, achei que estaria fazendo um bem e ajudando a promover nossa língua”, disse.
Já sobre as citações racistas, Chapina afirmou que os exemplos foram desenvolvidos no começo dos anos 2000, quando “escova progressiva e alisamento japonês eram febre”.
“Particularmente, até hoje eu faço escova, porque acho que fico mais bonita, minha cunhada tem cabelos cacheados e eu insisto para que ela os deixe natural, não tem juízo de valor ou ideologia sendo propagada naqueles exemplos”, disse.