Para votar na Itália é necessário confrontar-se com um sistema arcaico e patriarcal, que separa homens e mulheres e discrimina a comunidade LGBTQIA+. No entanto, ao mesmo tempo, é desburocratizado em relação ao direito ao voto, já que é possível imprimir uma segunda via do título de eleitor em minutos na sede das prefeituras que permanecem abertas durante o pleito eleitoral.
Quem tem um pé na Itália e outro no Brasil e vota em ambos países logo nota as diferenças. Para iniciar, as filas nas seções de votação são separadas por gênero, assim como o cadastro das listas eleitorais (elas são coloridos: rosa para as mulheres e azul para os homens).
E graças a uma lei, que nunca foi revogada, de 1947 – ano em que foi aprovada a Constituição italiana – a mulher, sem o seu consentimento, é identificada na lista com o sobrenome do marido.
A Itália permite que, após o casamento, o sobrenome do marido seja adotado pela esposa, mas isso é feito com consentimento de ambos. No caso das fichas eleitorais a situação é oposta, a mulher simplesmente descobre na hora do voto que o sobrenome do marido, ou pior do ex- marido, está associado ao dela.
É como se o Estado não considerasse a sua singularidade como pessoa, mas que a visse como propriedade de alguém, tanto que ao lado do sobrenome masculino está a preposição “de”.
Reprodução/ @Viminale
No país, ainda se vota com cédula impressa e se usa um lápis para votar
Se para as mulheres a situação já é, no mínimo, revoltante, para a população LGBTQIA+ é ainda pior. Pessoas trans, por exemplo, são constrangidas a irem para filas de gêneros que não lhes pertencem, tendo assim suas privacidades violadas.
Voto impresso na ponta do lápis
Além da discriminação de gênero, o sistema eleitoral também é arcaico. Aqui ainda se vota com cédula impressa e se usa um lápis para votar.
Sim, um lápis, mas que é incancelável.
Conhecido como lápis copiador, ao contrário daquele normal que é feito apenas de grafite, possui corantes e pigmentos que tornam a linha permanente e não apagável.
Para quem vota no Brasil e acha urna eletrônica o máximo, esse sistema eleitoral italiano é um choque.
Mas como em uma rosa não tem só espinhos, o sistema eleitoral italiano também tem suas contradições. Se por um lado é velho e patriarcal, por outro é desburocratizado, mas só na questão do acesso ao voto.
Durante o horário do pleito, que vai das 7h as 23h (horário local), as prefeituras permanecem abertas para ajudar os cidadãos no que for preciso. Em um país super burocrático como este, em que a engrenagem da administração pública anda a passos lentos, é impressionante notar como um título de eleitor possa ser emitido em dois minutos, mesmo no dia da votação.