O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um apelo para que o Congresso norte-americano tome medidas urgentes contra a violência armada e pelo controle de armas, na sequência de ataques a tiros que, segundo ele, transformaram lugares cotidianos em “campos de extermínio”.
“Basta, basta”, exclamou o presidente, em um discurso emocionado transmitido ao vivo da Casa Branca nesta quinta-feira (02/06).
Biden indagou quantas vidas mais serão necessárias para mudar as leis de armas nos EUA, um país ainda em choque com os recentes massacres em uma escola no Texas, um centro médico em Oklahoma e um supermercado em Nova York.
“Pelo amor de Deus, quanta carnificina ainda estamos dispostos a aceitar?”, questionou.
Ele também descreveu a visita que fez no último fim de semana à cidade de Uvalde, no Texas, onde um atirador de 18 anos matou 19 crianças e dois professores em uma escola primária na semana passada. “Não pude deixar de pensar que há tantas outras escolas, tantos outros lugares cotidianos que se tornaram campos de extermínio, campos de batalha, aqui nos EUA.”
Biden, do Partido Democrata, fez um apelo por uma série de medidas que enfrentam forte oposição dos republicanos no Congresso, incluindo a proibição da venda de armas de assalto e de carregadores (dispositivo que armazena e alimenta as munições) de alta capacidade ou, se isso não for possível, ao menos um aumento da idade mínima para a compra dessas armas de 18 para 21 anos.
“Não me diga que aumentar a idade não vai fazer diferença”, disse, lembrando que o atirador de Uvalde tinha 18 anos.
Ele também pressionou pelo fim do escudo “ultrajante” que protege os fabricantes de armas de serem responsabilizados judicialmente por violência cometida por atiradores que usam suas armas.
“Não podemos falhar com o povo norte-americano novamente”, afirmou Biden, pressionando os republicanos, especialmente no Senado, a permitirem a votação de projetos de lei envolvendo medidas de controle de armas. Para aprovar a legislação, ao menos dez senadores republicanos teriam que votar junto com os democratas.
O presidente também afirmou que, se o Congresso não agir, os eleitores norte-americanos devem usar toda sua “indignação” para transformar o controle de armas numa questão central nas eleições de meio de mandato em novembro. “Eu sei como é difícil, mas nunca vou desistir, e se o Congresso falhar, acredito que desta vez a maioria do povo norte-americano não vai desistir também”, disse.
“Trata-se de proteger as crianças”
Biden chamou atenção para um dado lamentável: “Armas são o assassino número um de crianças nos Estados Unidos”, à frente de acidentes de carro, segundo números do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA.
White House
‘Quanta carnificina ainda estamos dispostos a aceitar?’, questionou o presidente em discurso
“Nas últimas duas décadas, mais crianças em idade escolar morreram por armas do que policiais em serviço e militares da ativa combinados”, apontou o presidente.
Ciente das críticas persistentes dos defensores do direito à arma, Biden insistiu que seu apelo não visa “difamar os proprietários de armas” ou “tirar as armas de qualquer pessoa”.
“Devemos tratar os proprietários de armas que são responsáveis como um exemplo de como todo proprietário de armas deve se comportar”, disse. “Não se trata de tirar os direitos de ninguém, trata-se de proteger as crianças, trata-se de proteger as famílias.''
Conversas bipartidárias
O discurso de Biden na noite de quinta-feira coincide com conversas bipartidárias entre senadores norte-americanos para discutir mudanças modestas na política de armas. A senadora republicana Susan Collins disse que o grupo está “fazendo um rápido progresso”, e Biden conversou com o senador Chris Murphy, um dos democratas que lideram os esforços sobre o tema.
Os democratas esperam que o discurso de Biden estimule as negociações no Senado e aumente a pressão sobre os republicanos para que cheguem a um acordo. A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse que o presidente está esperançoso com as negociações no Congresso, mas quer dar aos legisladores “algum espaço” para continuar dialogando.
Série de ataques
Os Estados Unidos, que têm a taxa de mortes por arma de fogo mais alta do mundo, foram palco de uma série de ataques a tiros nas últimas semanas, que chocaram o país e reacenderam os debates sobre controle de armas.
Em 14 de maio, um supremacista branco visando afro-americanos matou dez pessoas em um supermercado em Buffalo, no estado de Nova York. O atirador sobreviveu e enfrenta acusações.
Dez dias depois, um atirador de 18 anos armado com um fuzil AR-15 matou 21 pessoas em uma escola primária em Uvalde, antes de ser morto a tiros pela polícia.
E na última quarta-feira, um homem armado com um fuzil e um revólver matou ao menos quatro pessoas em um centro hospitalar em Tulsa, no estado de Oklahoma. O atirador se matou em seguida.