Na expectativa do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo TRF-4 em Porto Alegre, na próxima quarta-feira (24/01), brasileiros residentes no exterior promovem diversos atos de apoio ao petista, a partir deste fim de semana. Estão previstas manifestações em cerca de 20 cidades europeias e nos Estados Unidos. Até a conclusão desta reportagem, não havia protestos marcados contra o ex-presidente fora do Brasil.
A mobilização dos apoiadores de Lula ocorre principalmente pela internet. Na Europa, há manifestações previstas em cidades como Paris, Londres, Amsterdã, Barcelona, Berlim, Munique, Lisboa, Zurique e Bruxelas.
Nos países onde haverá atos, os manifestantes esperam “aumentar a pressão” contra a condenação do petista, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do apartamento tríplex no Guarujá (SP), apurado pela Operação Lava Jato. O juiz de primeira instância Sérgio Moro sentenciou o ex-presidente a 9 anos e seis meses de prisão. A eventual condenação em segunda instância pode inviabilizar a candidatura de Lula à presidência, nas eleições de outubro.
Na capital francesa, haverá uma flash mob na tarde deste domingo (21), na praça do Trocadéro, com a Torre Eiffel de cenário. “Nós temos a consciência de que um movimento, com apoio da política internacional, é fundamental para a gente alimentar a esperança e mobilizar as pessoas no Brasil, deixando-as com vontade de continuar mobilizadas, e também para tentar ter um apoio político de peso, que possa influenciar alguma coisa na situação lá no Brasil”, explica Rebeca Rô Lang, uma das organizadoras da mobilização.
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Ricardo Stuckert
Manifestantes farão atos no exterior em apoio a Lula
Futuro em caso de condenação
No dia do julgamento, o grupo, que conta com o apoio de integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT) na França, promoverá um debate para avaliar o futuro do movimento. “O que nós sabemos, ao menos teoricamente, é que o PT vai manter a candidatura do Lula, independentemente do resultado no TRF-4, porque ainda tem recursos possíveis. Mesmo se eles confirmarem a sentença do juiz Sérgio Moro, isso não é definitivo e não justificaria a prisão dele.”
Os organizadores contestam a isenção da Justiça no processo contra o petista, desde a apreciação da denúncia em primeira instância, em Curitiba. “Lula deve ser absolvido pela total ausência de provas que o incriminem. O processo inteiro, em primeira instância, tem falhas. Nenhuma das 73 testemunhas ouvidas no caso trouxe provas que incriminem Lula”, aponta Edgard Batista, que organiza um protesto em Estocolmo, em frente ao palácio real sueco, no domingo.
“E agora, em segunda instância, o julgamento será feito pelos compadres do juiz Moro, que já se posicionou parcialmente contra o ex-presidente. É por isso que a gente se rebela”, afirma o especialista em informática que vive há 10 anos na Suécia.
Dois pesos e duas medidas
Em Nova York (Estados Unidos), a manifestação promete ser animada, com paródias de músicas brasileiras evocando o julgamento, além da distribuição de panfletos em inglês, espanhol e português. Pelo menos 30 manifestantes são esperados para o ato, que acontecerá na Union Square, também no domingo.
O organizador Eduardo Vianna, professor da City University of New York, denuncia um processo “enviesado”. “É obvio que todo o sistema político brasileiro é corrompido. A gente não acha que o presidente seja um santo: a gente sabe que houve corrupção dentro do PT”, observa Vianna. “Mas só o PT? E os outros? Tem provas contra o Aécio Neves, o José Serra, o Geraldo Alkmin. É muito descarado que são dois pesos e duas medidas”, critica.
O julgamento de Lula no Tribunal Regional Federal da 4ª região, com sede em Porto Alegre, está marcado para começar às 8h30 e terminar no máximo às 13h do mesmo dia. O movimento Vem Pra Rua programou protestos contra o ex-presidente em 35 cidades brasileiras, mas não no exterior.
(*) Publicado na RFI