Agência Efe
O fundador do Wikileaks, Julian Assange, divulgou nesta quarta-feira (22/08) um comunicado onde afirma que a sentença de 35 anos imposta ao soldado norte-americano Bradley Manning é uma “vitória tática significativa” já que ele pode ser posto em liberdade condicional daqui a cinco anos (além dos três já cumpridos) – período mínimo previsto para o cumprimento da pena.
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Entretanto, Assange também diz que enquanto a defesa deve estar orgulhosa de sua vitória, “deve ser lembrado que o julgamento e a condenação do Sr. Manning são uma afronta aos conceitos básicos da justiça ocidental”. Ele acrescentou que o tratamento que o soldado recebeu na prisão foi “cruel, desumano e degradante”, citando Juan Mendez, relator especial sobre tortura da ONU, e até mesmo “ilegal”, de acordo com as cortes militares dos EUA.
[O soldado Bradley Manning deixa a corte militar após o anúncio de sua sentença hoje]
Assange disse ainda que “é importante continuar apoiando Manning durante esse período”, em que a defesa tentará apelar para diminuir a sentença. Segundo ele, é “provável” que o soldado passe menos de dez anos na cadeia, uma vez que os três anos já cumpridos serão descontados de sua pena e esta pode ser reduzida ainda mais em caso de bom comportamento.
Ainda assim, o fundador do Wikileaks expressou sua crença de que “o único resultado justo” no caso de Manning seria “sua libertação incondicional, compensação pelo tratamento que recebeu nas prisões militares e comprometimento a investigar os delitos que suas supostas revelações trouxeram à luz”.
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Julian Assange conclui afirmando que o tratamento dado a Manning foi um “sinal” enviado pelo governo dos EUA para as pessoas que, como ele, tentam expor os delitos cometidos pelas autoridades. Segundo ele, essa tentativa “tem falhado espetacularmente” e só serviu para mostrar que, “na administração de Obama, não há lugar para pessoas com consciência e princípios”. “Como resultado, haverá mais mil Bradley Mannings”, encerra.
Repercussão
Além do Wikileaks, outros órgãos já se manifestaram em relação à sentença de Manning, anunciada hoje pela juíza militar Denise Lind, em Maryland, nos EUA. A ONG Repórteres Sem Fronteiras, por exemplo, declarou que a pena de 35 anos é “desproporcional” e constitui um ataque ao bom funcionamento da democracia norte-americana.
“A condenação bate de novo nos informantes e ressalta sua vulnerabilidade. O exército norte-americano envia uma mensagem clara, também para os jornalistas que se arriscam a publicar suas revelações”, disse a ONG em comunicado.
A Repórteres Sem Fronteiras declarou ainda que confia no cancelamento da sentença, anunciada “após três anos de detenção provisória em condições extremamente difíceis e um julgamento pouco justo”.
Já a organização de direitos civis ACLU (União de Liberdades Civis dos Estados Unidos, na sigla em inglês) julga que a sentença de Manning é uma prova de que “algo vai verdadeiramente mal” na Justiça norte-americana.
“Quando um soldado que compartilhou informação com a imprensa e o público é castigado muito mais duramente que outros que torturaram prisioneiros e mataram civis, há algo que vai verdadeiramente mal em nosso sistema de justiça”, disse Ben Wizner, diretor do projeto de Expressão e Privacidade da ACLU em comunicado.
Wizner acrescentou que esse é “um dia triste para todos os norte-americanos que dependem de informantes corajosos e da ‘imprensa livre’ para um debate político totalmente informado” e que um sistema legal “que não distingue entre o vazamento à imprensa no interesse público e a traição ao país não só produzirá resultados injustos, mas privará o público de informação crítica, que é necessária para a prestação de contas democrática”.
Bradley Manning, de 25 anos, foi condenado hoje a 35 anos de prisão e expulso do Exército com desonra pelo histórico vazamento de mais de 700 mil documentos confidenciais para o site Wikileaks.