A Justiça boliviana determinou nesta sexta-feira (30/12) que o político e empresário Luis Fernando Camacho, governador do departamento de Santa Cruz e um dos líderes da oposição de direita no país, deve ser mantido em prisão preventiva por ao menos quatro meses.
Segundo o Poder Judiciário local, a medida estará vigente durante a tramitação do Caso Golpe de Estado I, que investiga a participação de políticos, militares e empresário na conspiração que levou a derrubada do presidente democraticamente eleito Evo Morales, em novembro de 2019.
Na ocasião, Camacho efetivamente foi figura fundamental para se concretizar o golpe. N o dia 11 de novembro de 2019, ele encabeçou a realização de atos de vandalismo contra prédios públicos em La Paz, sendo que ele mesmo participou do principal ataque, a invasão do Palácio Quemado, sede do Poder Executivo da Bolívia.
O político de extrema direita chegou a realizar um live em um dos salões do Palácio, na qual apareceu estendendo uma bandeira boliviana no chão, ajoelhou-se diante dela, abriu uma Bíblia e passou a recitar passagens que, segundo ele, justificavam a ação golpista. A cena se tornou imagem referencial daquele golpe.
A decisão ocorre dois dias depois da detenção de Camacho, realizada na quarta-feira (28/12), por membros da Polícia Nacional da Bolívia.
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Luis Fernando Camacho [sem máscara] sendo preso pela polícia boliviana
Protestos e reação da defesa
Desde então, grupos ligados ao partido de direita Comitê Cívico, especialmente a União Juvenil Cruceñista (UJC), vêm promovendo ataques incendiários contra prédios públicos da cidade de Santa Cruz de la Sierra, capital do departamento de Santa Cruz. Os vândalos exigem a libertação de Camacho, que é um dos líderes do Comitê Cívico.
O advogado Martín Camacho, responsável pela defesa do governador de Santa Cruz, disse que vai recorrer da decisão, afirmando que “não há justificativa para prisão preventiva”.
“Estamos diante de uma transgressão abusiva, ilegal e arbitrária, socialmente inaceitável e moralmente condenável”, afirmou.
A defesa também alega que não houve golpe de Estado em 2019, e que o então presidente Evo Morales “renunciou e fugiu do país, devido à evidente fraude eleitoral” nas eleições de outubro de 2019.
Vale recordar que esse discurso da fraude eleitoral na Bolívia foi sustentado à época por um informe de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA), que foi contestado por diversos estudos realizados posteriormente, os quais demonstraram que em nenhum momento se apresenta provas de que houve fraude na apuração dos votos.
Em um comunicado, o partido Comitê Cívico acusou o governista Movimento pelo Socialismo (MAS) de ser o responsável por uma “perseguição política” contra um de seus líderes, e afirmou que “é hora de lutar contra os abusos do MAS, pela democracia, pela liberdade e pela Bolívia”.
Por sua parte, a Procuradoria Geral da Bolívia e o Ministério de Governo entraram com um pedido neste sábado (31/12) para aumentar o período de prisão preventiva para seis meses, devido ao fato de que Camacho tem se negado a prestar depoimento à Justiça.