A Justiça de Honduras condenou Roberto David Castillo culpado pelo assassinato da ambientalista indígena Berta Cáceres depois de mais de cinco anos do crime. Castillo é militar da reserva e foi presidente da empresa Desensolvimento Energéticos S.A. (DESA), encarregada de construir a hidroeléctrica Água Zarca em uma reserva índigena da etnia lenca, a qual a ativista pertencia.
A pena será definida em uma nova audiência no dia 3 de agosto. Segundo o Ministério Público, Castillo poderia cumprir até 30 anos de prisão. Até o momento, cinco pessoas foram indiciadas pelo caso. Agora familiares e amigos exigem que também sejam penalizados os autores intelectuais do crime.
“É uma vitória dos povos do mundo que acompanharam o processo, da comunidade solidária e dos direitos humanos”, afirmou Bertha Zúñiga, uma das filhas de Cáceres.
Em comunicado, o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (Copinh), organização à qual Berta pertencia, declarou que as estruturas de poder não puderam corromper o sistema judicial e a “estrutura criminosa da família Átala Zablah, da qual faz parte Castillo, não alcançou seus objetivos”.
O Ministério Público do país também qualificou o veredito como histórico. “Estamos satisfeitos com a resolução, porque obviamente apresentamos todas as provas que demonstravam a culpa de David Castillo, mas o caso não está fechado. Continuamos procurando mais autores intelectuais”, disse o porta-voz do MP, Yuri Mora.
Repercussão
O Alto Comissionado da ONU em Honduras celebrou a decisão e ofereceu ajuda técnica às instituições públicas do país. “Ao estabelecer responsabilidade pelo assassinato de Berta Cáceres se abre o precedente sobre a importância da justiça ante crimes contra defensores de direitos humanos”. O Alto Comissionado pediu, também, que as autoridades hondurenhas continuem responsabilizando todos os envolvidos.
Reprodução
Ativista foi assassinada enquanto dormia, no dia 02 de março de 2016, em casa
Da mesma forma, a ministra de Relações Exteriores da Espanha, Arancha González, afirmou “ânimo às instituições hondurenhas para continuarem a investigação e fortalecer o sistema judicial”.
Nos Estados Unidos, o congressista democrata Chuy García também se manifestou. “É uma vitória depois de uma longa jornada por justiça por Berta Cáceres. Assim como ela nunca desistiu, nós devemos seguir levantando nossas vozes em solidariedade com os povos indígenas e o seu direito de proteger seus territórios e o meio ambiente”, publicou.
Já no Brasil, Jurema Werneck, representante do movimento de mulheres negras e diretora da Anistia Internacional, declarou que “finalmente Davi Castillo foi declarado culpado pela co-autoria do assassinato da ativista indígena Berta Cáceres. Nossa solidariedade à família e ao Copinh”.
Entenda o caso
Berta Cáceres foi uma das fundadoras do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (Copinh) e era protagonista das lutas em defesa dos povos indígenas e da preservação ambiental em Honduras.
A ativista foi assassinada enquanto dormia, no dia 02 de março de 2016, em casa, na região de La Esperanza, Intibucá.
Berta coordenava manifestações para impedir a construção da hidroelétrica Água Zarca, no rio Gualcarque, que corta terras indígenas lenca. A obra era um investimento da família de empresários Átala Zablah, acusados de serem os verdadeiros autores intelectuais do homicídio.
O caso se arrasta há mais de cinco anos na justiça. Em dezembro de 2019, quatro pessoas envolvidas no crime foram condenadas a 34 anos de prisão.