A “Lava Jato gate” é destaque na imprensa francesa nesta terça-feira (11/06). Para Le Monde, a revelação de conversas entre o ex-juiz Sérgio Moro e o procurador Daltan Dellagnol “mancham um pouco mais” a imagem de Moro.
O diário ressalta que a reputação do ex-juiz é cada vez mais contestada “desde que ele entrou para o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro”, após ser o “xerife” que protagonizou a “queda” do ex-presidente Lula em pleno período eleitoral. A troca de mensagens, divulgada pelo site Intercept, sugere que as investigações se orientaram para impedir o retorno ao poder do “herói” da esquerda, escreve Le Monde.
Os conselhos diretos de Moro aos investigadores afrontam a Constituição. Além disso, as conversas reveladas entre os procuradores da mais importante operação contra a corrupção já realizada no Brasil indicam que eles queriam impedir a volta do PT ao Planalto.
Imparcialidade questionada
“Lula foi vítima de uma armação?”, questiona o jornal Libération, que fala em caso “explosivo” e nota que a imparcialidade de Moro sempre foi questionada, assim como os seus métodos de atuação e seus “abusos”.
“A cruzada anticorrupção do juiz interiorano suscitou, em um primeiro momento, a empatia da opinião pública. Mas, logo, percebeu-se que o seu alvo privilegiado era o Partido dos Trabalhadores, embora todas as forças políticas do Brasil pareçam ter se beneficiado da generosidade da Odebrecht”, assinala Libération.
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Conversas mancharam ainda mais reputação de Moro, diz imprensa francesa
O diário observa ainda que “a máscara caiu” quando, entre os dois turnos da eleição presidencial, o ex-juiz foi anunciado como futuro ministro da Justiça de Bolsonaro.
Os dois jornais ressaltam que as conversas não provam que Lula é inocente, embora atestem a fragilidade das provas utilizadas para a condenação do ex-presidente.
Caso de estudo
Já L’Humanité vai além e diz na manchete que “a Justiça está em cruzada contra Lula”, e as revelações provam o caráter político da investigação que resultou na prisão do petista. “A Operação Lava Jato vai continuar a ser um caso de estudo assustador para os estudantes brasileiros nas próximas décadas, sobre a desintegração democrática da nona potência mundial e a transformação do Judiciário em ator político de primeiro plano”, afirma L’Humanité.
“Bolha midiática ou bomba-relógio para a Justiça e o governo? Ninguém pode avaliar o potencial do caso, (…) mas poucos duvidam dos estragos que ele terá na carreira de Sergio Moro, que corteja um posto na Corte Suprema”, frisa Le Monde.