Manifestantes invadiram neste sábado a sede do Ministério das Relações Exteriores do Líbano, em Beirute. Pelo menos 130 pessoas ficaram feridas em confrontos com a polícia em diversos pontos da cidade. Um policial morreu. Os manifestantes responsabilizam as autoridades do país pelas explosões que arrasaram a região portuária da cidade na terça-feira, que são encaradas como resultado de décadas de corrupção e ineficiência por parte da elite política libanesa.
A invasão da sede do ministério, que foi proclamada pelos manifestantes como um “quartel-general da revolução”, foi exibida ao vivo em direto pela TV, e ocorreu quando a atenção das forças de segurança se concentrava nos milhares de manifestantes reunidos no centro da capital do Líbano.
Segundo a Cruz Vermelha libanesa, 130 pessoas ficaram feridas em confrontos entre a polícia e os manifestantes no centro de Beirute, 28 das quais tiveram de ser levadas para o hospital.
As explosões, que as autoridades libanesas têm atribuído a um incêndio num depósito no porto onde se encontravam armazenadas de maneira irregular cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amónio, provocaram 158 mortes até o momento e deixaram mais de 6.000 feridos. O desastre deu novo ímpeto à revolta de uma população que já estava mobilizada desde o outono de 2019 contra os líderes libaneses, acusados de corrupção e incompetência.
“Tomámos o Ministério das Relações Exteriores para quartel-general da Revolução”, anunciou o general reformado Sami Rammah, diante de cerca de 200 pessoas que gritavam “Revolução!”.
Reuters/H. Mckay
Polícia reprimiu protestos no centro de Beirute
Já os manifestantes que se concentraram no centro de Beirute pediram vingança contra os governantes e alguns tinham cordas, para simbolizar o seu enforcamento.
Guilhotinas em madeira foram instaladas na praça dos Mártires em Beirute, epicentro dos protestos iniciados em outubro de 2019. Muitos manifestantes gritaram “vingança, vingança, até à queda do regime”. Perto sede do parlamento, grupos de jovens lançaram pedras e a polícia respondeu com gás lacrimogéneo.
Em meio aos protestos, o primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, disse neste sábado que a saída para a atual crise política e econômica no país deve ocorrer por meio da antecipação das eleições. “Convido as partes a chegarem a um acordo sobre o próximo passo (…) Proporei na segunda-feira (a reunião do) no governo a convocação de eleições antecipadas”, disse Diab em discurso transmitido pela televisão.
Diab se disse disposto a liderar um processo visando essa antecipação “por dois meses, desde que sejam empreendidas reformas estruturais para salvar o país”.
“Estamos em estado de emergência quanto ao destino e ao futuro do país”, ressaltou.
O premiê também enfatizou que “todos os responsáveis pelo desastre no porto serão responsabilizados”.
“Investigar o desastre da explosão de Beirute não vai levar muito tempo. Não estamos nos agarrando aos cargos e queremos uma solução nacional que salve o país”, declarou.
JPS/efe/lusa