À medida que se aproximava a data de início da Cúpula das Américas, boa parte da atenção mundial se enfocava no que poderia resultar o primeiro encontro cara a cara entre o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e presidente norte-americano, Barack Obama, após anos de tensões entre Caracas e Washington.
No entanto, após a conclusão da Cúpula da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) quinta-feira (16), a expectativa por esse choque pessoal parece ter perdido espaço por conta da decisão do bloco de levar uma posição unificada para Trinidad e Tobago e também, pelo teor do conteúdo da declaração final do encontro realizado em Cumaná, Venezuela.
Em entrevista ao Opera Mundi, o analista político venezuelano Gonzalo Ramírez afirmou que “o documento final da Alba é o mais radical já elaborado, por expressar que o modelo atual já não tem resposta para a crise econômica e por isso, questiona e supera as medidas estabelecidas pelo G20, que aparentemente representam mais do mesmo”.
Os líderes do grupo também se manifestaram explicitamente contra o projeto de declaração final da Cúpula das Américas e avisaram que não o assinarão, por considerar-lo “insuficiente e inaceitável”.
As razões são fundamentalmente duas: primeiro, “porque o texto não dá respostas à crise, apesar de este ser o tema de maior desafio em décadas e a mais séria ameaça à época atual de bem-estar dos povos”; em segundo, que a cúpula “exclui injustificadamente Cuba, sem fazer menção ao consenso geral que existe na região no sentido de condenar o bloqueio e as tentativas de isolamento contra o país”.
De acordo com Ramirez, a expectativa para a cúpula é muito grande e há um cenário possível para o projeto regional bolivariano – plataforma da Alba. “Mas não acredito que tenhamos que esperar muito da reunião em Trinidad”. No entanto, segundo ele, “se a coesão dos países de Alba visa se manter por um tempo e se desenvolver, o quadro político da América Latina poderia ter mudanças mais profundas”, disse.
Críticas ao modelo proposto
Em várias oportunidades, Chávez e outros líderes como Evo Morales e Rafael Correa, têm expressado desacordo com as medidas adotadas no mês passado em Londres pelo G20 para enfrentar a crise econômica global, por considerar que formam parte das mesmas políticas, dadas por organismos financeiros que atuaram como executores do modelo econômico causador do desastre.
“Dar ao FMI a importância que estão dando depois da Cúpula do G20 e investir milhões de dólares, é como pedir a um incendiário que apague o incêndio” disse Chávez na reunião em Cumaná.
Esta posição foi ratificada pelos demais no texto final do encontro. Ali se precisa que “aquilo que estamos vivendo é uma crise econômica global de caráter sistêmico e estrutural e não mais uma crise cíclica” que pode solucionar-se mediante a aplicação de algumas regulações e a injeção de dinheiro fiscal.
“As soluções para a crise”, diz o documento, estão na definição de uma “nova arquitetura financeira internacional”. “É necessário estabelecer uma nova ordem econômica mundial que inclui a transformação total do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e da Organização Mundial do Comercio”, afirmam.
Obama
Ainda no documento, os líderes afirmam o que esperam de Obama. “Esperamos do novo governo dos Estados Unidos, cuja chegada há gerado algumas expectativas na região e no mundo, que coloque fim à larga e nefasta tradição de intervencionismo e agressão, que vem caracterizando a atitude dos governos deste país ao longo da história, especialmente durante o governo de George W. Bush”.
Da mesma maneira, propuseram ao presidente Obama que elimine “práticas intervencionistas como operações acobertadas, diplomacias paralelas, guerras mediáticas para desestabilizar estados e governos e financiamento de grupos desestabilizadores”. E concluíram: “É fundamental construir um mundo onde se reconheça e respeite a diversidade de enfoques econômicos, políticos, sociais e culturais”.
Nova moeda
Uma das medidas mais importantes tomadas pela Alba para tentar amenizar os efeitos da crise global é a criação de uma nova moeda, cujo nascimento formal foi na quinta-feira, após meses de trabalho e discussões.
Trata-se do Sucre (Sistema Único de Compensação Regional de Pagamentos) que, conforme expressou o presidente Chávez, deverá entrar em funcionamento a partir de 1º de janeiro de 2010 nos países da Alba mais o Equador, “como moeda virtual no princípio, mas com a projeção de converter-se em uma moeda física a futuro, que nos permitirá começar a sair da ditadura do dólar que nos impuseram”, disse.
O sistema funcionará através de quatro órgãos: um Conselho Monetário Regional, uma Unidade de Conta Comum, uma Câmara Central de Compensação de Pagamentos e um Fundo de Reservas e de Convergência Comercial, cujos detalhes, informou Chávez, se serão mostrados futuramente.
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