O jornal Le Monde desta quinta-feira (12/09) traz uma entrevista exclusiva com o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, concedida na sala de imprensa da sede da Polícia Federal de Curitiba. Dizendo se sentir bem, moralmente e fisicamente, Lula ratifica sua inocência e se diz otimista sobre sua saída da prisão. Também falou sobre a soberania do Brasil sobre a Amazônia, mas defendeu o presidente francês, Emmanuel Macron, dos insultos de Jair Bolsonaro e membros do governo brasileiro.
“Sempre tive excelentes relações com todos os presidentes franceses, de esquerda como de direita, com Chirac, Sarkozy e Hollande. Sou solidário a Emmanuel Macron, depois dos insultos contra sua esposa. Foi uma grosseria injustificável, e isso não tem nada a ver com o povo brasileiro”, afirma o ex-presidente, em entrevista ao novo correspondente do Le Monde no Brasil, Bruno Meyerfeld.
Entretanto, Lula discorda da ideia de Macron de internacionalizar a Amazônia. “A Amazônia é propriedade do Brasil. Ela faz parte do patrimônio brasileiro. É o Brasil quem tem que cuidar dela. Isso não quer dizer que é preciso ser ignorante, que a ajuda internacional não é importante. Mas a Amazônia não pode ser um santuário da humanidade. Lembro que 20 milhões de pessoas vivem lá, precisam comer e trabalhar. Devemos também cuidar deles, levando em consideração a preservação do meio ambiente”, diz.
Para Lula, é preciso que os brasileiros reajam e se mobilizem pela defesa da natureza. O líder petista lembra ao Le Monde que durante seu governo foram criados fundos, financiados pela Alemanha e a Noruega, para proteger a floresta, além de 144 zonas naturais protegidas, permitindo diminuir o desmatamento ilegal. “Não podemos esperar nada de Bolsonaro e seus ministros sobre essa questão”, avalia.
Ricardo Stuckert
Lula foi entrevistado pelo jornal francês Le Monde
“Governo de destruição”
Ao ser questionado sobre Bolsonaro, Lula adota um tom cáustico, afirmando que o atual presidente brasileiro destrói a educação, os direitos dos trabalhadores e a indústria brasileira. “É um governo de destruição, sem nenhuma visão de futuro, sem programa, que não é qualificado para o poder. É por isso que Bolsonaro diz tantas besteiras, que ele insultou a esposa de Macron e Michelle Bachelet, que ele briga com Maduro. É a loucura total. E, ainda por cima, se submete totalmente a Trump. Nunca vi disso!”
O líder petista também minimiza a vitória de Bolsonaro nas últimas eleições, avaliando que discursos reacionários sempre atraíram eleitores. “Bolsonaro é, antes de tudo, o resultado de uma rejeição da política. Nesses momentos da história, nos quais a política é tão odiada, as pessoas se apegam ao primeiro monstro que encontram. É lamentável, mas aconteceu”, diz.
Apesar da forte rejeição de parte dos brasileiros, Lula não acredita que o PT deva fazer uma autocrítica. Para o ex-presidente, apesar do intenso antipetismo, a sigla consegue chegar em primeiro ou segundo lugar a cada eleição há vinte anos. “Fernando Haddad obteve 47 milhões de votos. É muito! Sim, perdemos uma eleição, é verdade. Mas perder é normal na democracia. Não podemos ganhar sempre. No Brasil, há muitos antipetistas, mas também muita gente que acredita no partido, e outros ainda que precisam ser convencidos”, afirma.
Ao comentar sua esperança de sair da prisão, Lula não poupa críticas a Sérgio Moro, quem acusa de se articular com procuradores e mentir à Suprema Corte. Mas o ex-presidente está convicto de que um dia deixará o cárcere e “que um dia as pessoas serão responsabilizadas sobre o que aconteceu neste país”.
Lula também afirma ao Le Monde não temer por sua vida, caso seja libertado. “O Brasil é um país de paz, com um povo que ama a vida. (…) Quero sair da prisão e falar com o povo. Sou um homem sem espírito de vingança, sem ódio. O ódio queima o estômago, dá dor de cabeça, dores nos pés! E eu estou bem, justamente, porque estou do lado da verdade. E, no final, é sempre ela que ganha”, conclui.