O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou neste sábado (16/09) as sanções impostas pelos Estados Unidos contra Cuba, defendeu a reformulação do sistema de governança global e também questionou as empresas de tecnologia. A fala ocorreu durante a cúpula do G77+China, que ocorre em Havana, capital cubana, e é o maior evento de países do Sul Global dentro da Organização das Nações Unidas (ONU).
“É de especial significado que, nesse momento de grandes transformações geopolíticas, essa cúpula seja realizada aqui em Havana. Cuba tem sido defensora de uma governança global mais justa e até é vítima de um embargo econômica ilegal. O Brasil é contra qualquer medida coercitiva de caráter unilateral. Rechaçamos a inclusão de Cuba na lista de Estados patrocinadores do terrorismo”, destacou o petista.
O país que mantém uma proibição de fazer negócios com a ilha socialista desde 1962 são os Estados Unidos. Além disso, a Casa Branca também coloca Cuba na lista de países “patrocinadores do terrorismo”, medida adotada pelo então presidente Donald Trump. Havana diz que o bloqueio já causou um prejuízo superior a US$ 140 bilhões e a Assembleia Geral da ONU costuma votar desde 1992 uma resolução condenando a proibição do comércio entre EUA e Cuba.
Em seu discurso, Lula também defendeu que o G77 tem sido “um vetor de importantes mudanças nas instituições multilaterais” ao expor “as anomalias do comércio global”.
“A governança mundial segue assimétrica. A ONU, o sistema Bretton Woods e a OMC – Organização Mundial do Comércio – estão perdendo credibilidade. Não podemos nos dividir. Devemos forjar uma visão comum que leve em consideração as preocupações dos países de renda baixa e média e de outros grupos mais vulneráveis”, afirmou.
Ricardo Stuckert
Lula durante discurso no G77, que acontece em Havana, capital cubana
O presidente brasileiro ainda criticou os “efeitos colaterais ameaçadores” da tecnologia. “Grandes multinacionais do setor de tecnologia possuem modelo de negócios que acentua a concentração de riquezas, desrespeita leis trabalhistas e, muitas vezes, alimenta violações de direitos humanos e fomenta o extremismo. Corremos riscos que vão da perda de privacidade ao uso de armas autônomas, passando pelo viés racista de muitos algoritmos”, disse.
Ainda neste sábado, Lula tem prevista uma reunião bilateral com o presidente de Cuba, Miguel Díaz Canel. No final do dia, o líder petista embarca para Nova Iorque, onde participará da Assembleia Geral da ONU, na terça-feira (19/09), e tem prevista uma reunião com o presidente dos EUA, Joe Biden, na quarta-feira (20/09).
O que é o G77?
O Grupo dos 77 países foi fundado em 1964, quando foi assinada uma declaração conjunta em Genebra, na primeira sessão da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Essa declaração defendia os interesses desses 77 países do Sul Global em relação ao sistema de comércio internacional.
Com o passar do tempo, outros países foram aderindo. Cuba entrou em 1971 e a China em 1992. Atualmente, é uma coalizão de 134 estados-membros, que representam 80% da população mundial.
O evento contará com a participação de mais de cem delegações diplomáticas e governamentais de alto nível da África, Ásia, América Latina e Caribe. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, participará da inauguração do evento, ao lado do presidente de Cuba.
Entre os presidentes latino-americanos que participarão do evento estão os líderes de Argentina (Alberto Fernández), Bolívia (Luis Arce), Colômbia (Gustavo Arce), entre outros. O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e delegações da Índia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, entre outros, também participarão.
(*) Com Brasil de Fato.