O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, esteve presente, neste sábado (17/02), na cerimônia de abertura da 37ª Cúpula da União Africana do Brasil, em Adis Abeba, na Etiópia, e fez um discurso como convidado de honra do evento.
O pronuncuamento do mandatário se destacou pelas propostas de parcerias com os países do continente para o enfrentamento da crise climática e de possíveis novas emergências sanitárias.
“Venho para reafirmar a parceria e o vínculo do nosso país e do nosso povo com este continente irmão. A luta africana tem muito em comum com os desafios do Brasil. Nós, africanos e brasileiros, precisamos traçar nossos próprios caminhos na ordem internacional que surge. Precisamos criar uma nova governança global, capaz de enfrentar os desafios do nosso tempo”, ressaltou.
Na questão da crise climática, o discurso enfatizou o combate ao desmatamento, e ofereceu uma parceria entre Brasília e os países da União Africana visando buscar soluções para esse problema.
“Cuidar da saúde do planeta é uma das nossas prioridades. O imperativo de proteger as duas maiores florestas tropicais do mundo, a Amazônica e a do Congo, nos torna protagonistas na agenda climática. Os instrumentos internacionais hoje existentes são insuficientes para recompensar de forma eficaz a proteção das florestas, sua biodiversidade e os povos que vivem, cuidam e dependem desses biomas”, declarou Lula.
Presidente Lula discursa na 37ª Cúpula da União Africana https://t.co/YLyRDaS2yD
— Lula (@LulaOficial) February 17, 2024
Em outro momento, o mandatário sul-americano falou sobre outro problema que vem se acentuando devido às mudanças climáticas, que é a propagação de doenças tropicais.
Lula reclamou do fato de os grandes laboratórios negligenciarem as pesquisas sobre esses problemas e também usou o termo “apartheid de vacinas” para se referir aos problemas na distribuição dos imunizantes durante a pandemia de covid-19.
Por essa razão, ele propôs uma ação conjunta entre países latino-americanos e africanos para “buscar um novo sistema que seja justo com os países do Sul Global diante de futuras crises sanitárias”.
Ricardo Stuckert / Presidência da República
Lula participou da 37ª Cúpula da União Africana como convidado de honra
Conflito em Gaza
O discurso do presidente brasileiro na União Africana também abordou a crise humanitária vivida pelos palestinos residentes na Faixa de Gaza, após mais de quatro meses de ofensiva militar de Israel contra o seu território – ação que já causou a morte de mais de 28 civis, incluindo mais de 13 mil crianças, segundo dados entregues pela agência da Organização das Nações Unidas (ONU) de apoio aos refugiados palestinos.
Ao falar sobre o conflito, Lula voltou a defender a criação de um Estado palestino com amplo reconhecimento internacional como única forma de se chegar a uma “solução duradoura” para o conflito.
“Ser humanista hoje implica condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelenses, e demandar a liberação imediata de todos os reféns. Ser humanista impõe igualmente o rechaço à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza, em sua ampla maioria mulheres e crianças, e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população local”, destacou Lula.
Convidado de honra
Além de clamar por um “Estado palestino reconhecido como membro pleno das Nações Unidas”, o presidente do Brasil enfatizou a necessidade de uma reforma na ONU para garantir uma representação mais equitativa, especialmente para os países da África e da América Latina, incluindo sua presença com vagas permanentes no Conselho de Segurança.
A própria participação de Lula na cúpula, como convidado de honra, surgiu pelo fato de que o brasileiro foi responsável pelo apoio decisivo para a incorporação da União Africana ao G20, há poucos meses, após o Brasil assumir a presidência pro tempore do organismo multilateral.
Lula recordou esse fato, mas também defendeu que “mais países do continente africano devem ser aceitos como membros plenos, tanto no G20 quanto no Conselho de Segurança (da ONU)”.
O mandatário disse que o Brasil, durante o seu atual mandato, pretende retomar parcerias com a África em âmbitos como saúde, educação, meio ambiente, ciência e tecnologia, além de buscar novos acordos comerciais com os países do continente.
“A África tem enormes possibilidades para o futuro e o Brasil quer crescer junto com a África, mas sem ditar caminhos a ninguém”, concluiu Lula.