O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, foi recebido nesta sexta-feira (25/08) no Palácio Presidencial de Angola pelo seu homólogo João Lourenço, dando início à sua agenda oficial no país africano.
Durante a reunião, Lula convidou o mandatário angolano a participar dos eventos que serão realizados pelo G20 no Brasil durante o ano de 2024, quando o país sul-americano exercerá a presidência pro tempore do organismo.
Em suas redes sociais, Lula disse que o encontro também serviu para tratar do “fortalecimento da parceria do Atlântico Sul” e para recuperar as relações comerciais entre os dois países, que experimentaram um retrocesso durante o governo do seu antecessor, Jair Bolsonaro.
“Reiterei ao presidente João Lourenço que a relação do Brasil com Angola é uma política de Estado, que independe das circunstâncias”, ressaltou o mandatário brasileiro.
Dívida dos países africanos
Após a reunião, Lula e Lourenço ofereceram declarações à imprensa, momento em que o presidente brasileiro fez um contundente discurso, criticando o Fundo Monetário Internacional (FMI) e defendendo uma mudança de paradigma com relação à dívida dos países africanos com a instituição.
“Eu sei da dívida que o continente africano tem com o FMI, que chega a quase US$ 800 bilhões, e essa dívida vai ficando impagável à medida em que os juros que eles pagam vão ficando muito maior que os juros estipulados no momento em que o empréstimo foi dado. Quem sabe nós precisamos abrir uma nova discussão: por que, em vez de querer receber essa dívida, não podemos transformar essa dívida em obras públicas, em obras de infraestrutura?”, propôs o mandatário brasileiro.
Lula completou seu raciocínio lembrando que “só no ano passado, foram gastos em armas US$ 2,224 trilhões. Imagina se isso fosse gasto em alimentos, se fosse gasto na saúde, se fosse transformado em investimentos nos países africanos?”.
Ricardo Stuckert
Lula realizou visita à Angola, onde esteve com o presidente João Lourenço
O líder brasileiro também ressaltou que “Angola sempre será a nossa porta de entrada no continente africano” e lembrou que o Brasil foi o primeiro país em reconhecer a independência de Angola (em novembro de 1975).
“Em 2025, nós completaremos 50 anos de relações, e eu espero que, quando comemorarmos esse feito, nós estejamos novamente sintonizados em nossas economias, em nossas políticas para cuidar do povo, e que possamos dizer que vale a pena a gente se aproximar dos países do continente africano”, frisou.
Lula terminou seu discurso afirmando que “nós temos uma relação preferencial com Angola e vamos fazer o que for possível para voltar a ter a mais produtiva, a mais saudável relação. Precisamos aumentar a diversificação das coisas que compramos e vendemos, aumentar nossa capacidade de transferência de tecnologia, quem sabe uma coisa ensina o outro e nessa troca de experiências tanto o Brasil quanto Angola podem crescer”.
“Brasil voltou de verdade”
Por sua parte, o presidente angolano, João Lourenço, expressou sua satisfação com a visita de Lula, que disse simbolizar o interesse do Brasil em retomar as relações com o seu país. O mandatário africano também lamentou que “nos últimos anos, nossas relações esfriaram, por motivos que não vale a pena mencionar” (embora tenha ficado subtendido que se referia ao período de governo de Jair Bolsonaro).
“É importante contarmos com a presença do presidente Lula, que veio com uma delegação de ministros e uma grande delegação empresarial, o que dá maior conteúdo a uma relação que sempre foi de amizade e de cooperação”, afirmou o presidente angolano.
Lourenço também enfatizou que “o Brasil é um país que significa muito para Angola, por um conjunto de razões de ordem cultural, histórica e econômica. Queremos desenvolver nossas relações em temas como agropecuária, educação, saúde, turismo e outros aspectos que são importantes para ambas as nações”.
Com relação às palavras de seu homólogo sobre o esfriamento das relações entre os dois países durante o governo anterior, Lula respondeu dizendo que “você e todo o povo angolano podem ter certeza de que o Brasil voltou de verdade”.