O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou nesta sexta-feira (21/04) pela manhã em Lisboa, etapa inicial da sua primeira viagem à Europa desde que assumiu o terceiro mandato, em 1° de janeiro. A agenda oficial se inicia apenas neste sábado (22/04).
Lula aterrissou no aeroporto militar de Figo Maduro às 10h35 (6h35 em Brasília) e seguiu direto para o hotel Tivoli, onde ingressou de carro. Um pequeno grupo de apoiadores aguardava o presidente do lado de fora do estabelecimento.
A comitiva presidencial inclui sete ministros, como os da Defesa (José Múcio Teixeira), Relações Exteriores (Mauro Vieira), Educação (Camilo Santana) e a da Cultura (Margareth Menezes). A expectativa é pela assinatura de 13 acordos bilaterais, com destaque para o que deverá facilitar a validação de diplomas de profissionais estrangeiros em Portugal e no Brasil. Outro ponto alto será a entrega do Prêmio Camões ao cantor, compositor e escritor Chico Buarque.
O petista ficará em Portugal até terça (25/04), quando embarca para dois dias de visita à Espanha, segunda e última escala da viagem. O giro visa reforçar a aproximação com os europeus depois de quatro anos de isolamento do Brasil durante o governo de Jair Bolsonaro.
Mal-estar sobre a Ucrânia
A viagem acontece poucos dias das polêmicas declarações do petista sobre a guerra na Ucrânia, tema que deve ser abordado nas conversas que o presidente terá com o primeiro-ministro português, António Costa, neste sábado (22/04).
Lula gerou incômodo nas potências ocidentais ao afirmar, em Pequim, que os Estados Unidos devem parar de “incentivar” a guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022 com a invasão russa. Ele também reiterou que Kiev divide a responsabilidade pelos ataques com Moscou, e recebeu nesta segunda-feira em Brasília o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. O chanceler russo “agradeceu” os esforços brasileiros para acabar com o conflito.
A sequência de comentários gerou duras críticas de Washington. Em Portugal, o presidente Rebelo de Sousa teve de se explicar diante das críticas internas ao futuro convidado, afirmando que “não ter nada a ver” com o posicionamento de Lula. Uma associação de ucranianos residentes no país pretende entregar uma carta ao líder brasileiro.
Ricardo Stuckert
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Lisboa na manhã desta sexta (21/04), acompanhado da primeira-dama, Janja
Já o porta-voz de Assuntos Externos da União Europeia, Peter Stano, fez questão de “lembrar alguns fatos básicos” ao brasileiro: disse que “a Rússia, e apenas a Rússia, é responsável pela agressão ilegítima e não provocada contra a Ucrânia”, e ressaltou que o bloco e os Estados Unidos “estão ajudando a Ucrânia a exercer seu direito legítimo de autodefesa”.
Lula propõe uma mediação internacional e apresenta o Brasil como intermediário neutro. Mas, depois de acusar os Estados Unidos de continuarem a incentivar a guerra, Washington criticou o país por “repetir como um papagaio a propaganda russa e chinesa”. O G7 alertou sobre os “custos severos” para aqueles que ajudam a Rússia em sua guerra contra a Ucrânia.
Já o governo ucraniano convidou Lula a visitar Kiev para “entender” a realidade da agressão de Moscou.
Prêmio Camões a Chico Buarque
Em Portugal, Lula será recebido com honras no sábado pelo presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa. Após o almoço com o primeiro-ministro, os dois governantes vão realizar um encontro de alto nível e assinar uma dezena de acordos de cooperação nas áreas de espaço, energia, ciência, educação e turismo, entre outros. O domingo está reservado para uma agenda privada que não foi revelada.
Na segunda-feira, Lula e Sousa inauguram um fórum empresarial no Porto, com 150 representantes dos dois países. De volta a Lisboa, presidirão a entrega do Prêmio Camões, a mais alta premiação da literatura de língua portuguesa, ao compositor e cantor Chico Buarque. O brasileiro venceu a premiação em 2019, mas o então presidente Jair Bolsonaro se recusou a assinar o documento oficial da condecoração. Buarque é um antigo apoiador de Lula.
Na terça-feira (25/04), mesmo dia em que Portugal comemora a Revolução dos Cravos, que pôs fim à última ditadura do país em 1974, o petista discursará em sessão especial perante o Parlamento, antes da sessão em comemoração aos 49 anos do evento histórico. A extrema direita portuguesa, pela voz do partido Chega, organiza protestos contra a presença do petista na data comemorativa nacional.
Em Madri, entre terça e quarta-feira, Lula participa de um fórum empresarial, reúne-se com o chefe de governo, Pedro Sánchez, e será recebido para um banquete com o rei Felipe VI, informou o Itamaraty, sem dar mais detalhes.