O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-chanceler Celso Amorim disseram nesta sexta-feira (10/01), em um artigo publicado no jornal britânico The Guardian, que o mandatário brasileiro Jair Bolsonaro “endossa a guerra” dos Estados Unidos contra o Irã.
Para Lula e Amorim, governo Bolsonaro é “embalado” por uma ideologia “agressiva e de extrema direita”, que adota um comportamento que vai na contramão da Constituição do Brasil.
“É profundamente lamentável que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, embalado por uma ideologia agressiva de extrema direita e uma vergonhosa subserviência ao atual presidente dos EUA, adote uma postura contrária à Constituição brasileira e às tradições de nossa diplomacia, endossando o ato da guerra de Trump no início do ano em que o presidente americano concorrerá à reeleição”, afirmaram.
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O ex-presidente e o ex-ministro ainda apontam os “estragos” que uma guerra pode causar à “qualidade de vida” da população, ao meio ambiente e ao “rico patrimônio histórico”. Para Lula e Amorim, o presidente brasileiro “ignora” tais danos humanitários e ainda não leva em consideração as relações comerciais entre o governo brasileiro e o Irã.
“Como ele ignora os danos humanitários causados pela guerra, Bolsonaro deve levar em consideração as relações comerciais entre o Brasil e o Irã, com as quais temos um excedente de mais de US$ 2 bilhões por ano”, disseram.
O artigo aponta a mediação que o governo Lula realizou, em 2009, quando negociou com o Irã, junto com a Turquia, a “declaração de Teerã”, acordo que foi fechado em 2010 sobre o enriquecimento nuclear iraniano.
Instituto Lula/Reprodução
Ex-presidente e ex-chanceler afirmaram que Bolsonaro endossa guerra norte-americana contra Irã
“Este acordo, celebrado em 2010, aclamado por especialistas em desarmamento de todo o mundo, incluindo o ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica e o prêmio Nobel, Mohamed ElBaradei, tinha o potencial de trazer uma solução pacífica para a complexa questão do programa nuclear iraniano”, disseram Lula e Amorim, ainda recordando que a negociação foi um pedido do ex-presidente norte-americano Barack Obama.
Ambos afirmam que serão sempre “defensores persistentes da paz” e que, de acordo com eles, a “guerra urgente” que deve ser combatida é contra a fome.
“Há uma guerra urgente que deve ser travada por todas as nações: a guerra contra a fome, que ameaça um em cada nove habitantes deste planeta. O que é gasto em um único dia de guerra aliviaria o sofrimento de milhões de crianças famintas no mundo. É impossível não ficar indignado com isso”, disseram.
Os líderes relembram a conversa que tiveram com George W. Bush, em 2002, na Casa Branca., onde Lula e Amorim afirmaram ao então presidente dos Estados Unidos que não iriam participar da “coalizão contra o Iraque” e condenaram o ataque.
“Não participamos da coalizão contra o Iraque e condenamos o uso unilateral da força. Apesar disso (ou mesmo por causa disso), Bush respeitava o Brasil. Cooperamos em situações difíceis, como a criação do “grupo de amigos da Venezuela” e as negociações comerciais da OMC. Mantivemos boas relações e contatos frequentes sobre questões regionais e mundiais, mesmo com nossas divergências”, apontaram.